A minha Lista de blogues

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Há - de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida

Há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu… como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos… sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta… dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca do mar ao fundo da rua
assim envelheci… acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração, mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade

Al Berto



Há - de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida

http://www.youtube.com/watch?v=4sd4Ll80_4A

domingo, 30 de maio de 2010

Leonard Cohen

Leonard Cohen - A Thousand Kisses Deep

http://www.youtube.com/watch?v=P0j14GrB-u8&feature=player_embedded

Sophia

”Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A Força dos teus sonhos é tão forte,
Que tudo renasce a exaltação E nunca as minhas mãos ficam vazias”.

Sophia de Mello Breyner Andreson


Se eu quiser falar com Deus
Gilberto Gil
http://www.youtube.com/watch?v=cw2htOGZO1Q&feature=player_embedded

quinta-feira, 27 de maio de 2010

VIDA

Anatomia de Grey



MORRER, é do que temos mais certeza nesta vida. Mas nunca queremos pensar nisso. Nem quando vamos partir nem quando os que nos são mais queridos vão partir. Ainda que sejam muito velhinhos...

Beautiful story of an old couple


http://www.youtube.com/watch?v=O3rJ0U967EM&feature=player_embedded#!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Se me amas não chores

Se conhecesses o mistério imenso do céu
onde agora vivo,este horizonte sem fim,
esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias,se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor,uma
enorme ternura que nem tu consegues
imaginar.
Vivo num alegria puríssima.
Nas angústias do tempo pensa nesta casa
onde um dia estaremos reunidos para al´me
da morte,matando a sede na fonte
inesgotável da alegria e do amor infinito.
Não chores,se verdadeiramente me amas!


Santo Agostinho

José Luís Peixoto

José Luís Peixoto por ele mesmo

José Luís Peixoto lê um trecho do seu livro “Morreste-me”

http://www.youtube.com/watch?v=JYZycwz6a3M&feature=player_embedded

domingo, 23 de maio de 2010

LÍNGUA PORTUGUESA

A Língua

http://www.tvcultura.com.br/laeca/programas/1137



Nesta semana, Paulo Markun e Carlos Fino conversam sobre as origens da língua portuguesa, falada num país e no outro. Abordam também as influências de outros povos (índios, negros e outras culturas) sobre o idioma. Um passeio da reportagem pelo Museu da Língua Portuguesa em São Paulo ilustra o debate. E também há informações curiosas como o fato de 1 a cada 30 habitantes do planeta Terra falar a língua portuguesa e de a literatura de cordel ter origem em Portugal. Não perca o 3º episódio da série!


http://www.tvcultura.com.br/laeca/entrevistados

Mariza

sábado, 22 de maio de 2010

Ana Hatherly

28/5/1965

Vejo muitos turistas vestindo camisas de Nazaré. Dum grupo deles, à varanda dum grande hotel de luxo, digo: como estão pobres os que deveriam frequentar estes lugares. Estou com uma família inglesa. Vestem fatos de tweed de cores admiráveis. Pergunto: is it hand woven? Estou sentada a uma mesa com os turistas, falo do canto dos pássaros. Digo: sei imitar muito bem o melro. Então surge à janela um pássaro fulvo, ruivo, que identifico com um falcão mas que na verdade era um pequeno faisão. Chama, parece pedir alguma coisa. Parece cansado duma viagem. Dou-lhe pedacinhos de pão, mas ele não come. Surge então um gato preto que se atira ao pássaro e o mata. Vejo o gato agarrá-lo pelo pescoço. Vejo o sangue dele. O gato vai comer o pássaro. Num restaurante onde parece que faltou luz, uma senhora turista manda tirar de cima da mesa o maior número de coisas possível e diz: é preciso deixar espaço para o silêncio.

Ana Hatherly

Sonhos portugueses. Relatos oníricos de Ana Hatherly publicados no último número da revista Coyote.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alexandre O’Neill

Daqui desta Lisboa

“Daqui, desta Lisboa compassiva,
Nápoles por Suíços habitada,
onde a tristeza vil, apagada,
se disfarça de gente mais activa;

Daqui, deste pregão de voz antiga,
deste traquejo feroz de motoreta
ou do outro de gente mais selecta
que roda a quatro a nalga e a barriga;

Daqui, deste azulejo incandescente,
da soleira da vida e piaçaba,
da sacada suspensa no poente,
do ramudo tristôlho que se apaga;

Daqui, só paciência, amigos meus !
Peguem lá o soneto e vão com Deus.”

Alexandre O’Neill

terça-feira, 18 de maio de 2010

Miguel Torga

Miguel Torga - Os avanços da Medicina


«Coimbra, 6 de Março de 1953 – Piorei da saúde. A máquina, à medida que os anos passam, vai pondo à mostra o desgaste dos rodízios. O caruncho começa a esfarelar o travejamento do corpo. Os inevitáveis sinais duma velhice que se aproxima, e de que tenho um terror que só ela sabe… Mas ao averiguar esta manhã o grau de mazelas que me roem, confesso que não foi o meu caso em si o que mais me interessou. Embora habituado, por ofício, a análises e radiografias, impressionou-me sobretudo o aspecto impessoal do problema. Época diabólica esta, em que podemos assistir num laboratório ao doseamento da energia que nos resta!
Dantes, a morte parecia-nos vir de fora, num ataque bruto e frontal. Agora, não. Agora conseguimos vê-la crescer em nós, milimetricamente, insidiosamente, como uma semente na terra ou um afecto no coração.
A olhar tubos de reacção alinhados e coloridos, onde uma subtil turvação é uma sentença sem apelo, até me esqueci de que o sangue era meu, empolgado como fiquei pelo progresso metódico de uma ciência universal, inexorável, que vai devassando esta última intimidade do mundo que era a vida. Abdiquei do meu próprio terror, encadeado pelo brilho da alquimia. Mais uns passos, e seremos transparentes como cristal. Transparentes à semelhança dos relógios, garantidos por um determinado tempo. Ao lado da data de nascimento, da altura e da cor dos olhos, teremos no cartão de identidade mais esta indicação preciosa: o dia prefixo do óbito.»
Miguel Torga, Diário VI, Coimbra, 1953, p. 178 e 179

segunda-feira, 17 de maio de 2010

MEMÓRIA

Memória


Há duas maneiras pelas quais o cérebro adquire e armazena informações: memória de procedimento e memória declarativa. Essas duas formas divergem tanto no que diz respeito aos mecanismos cerebrais envolvidos como nas estruturas anatômicas
A memória de procedimento (também chamada implícita) armazena dados relacionados à aquisição de habilidades mediante a repetição de uma atividade que segue sempre o mesmo padrão. Nela se incluem todas as habilidades motoras, sensitivas e intelectuais, bem como toda forma de condicionamento. A capacidade assim adquirida não depende da consciência. Somos capazes de executar tarefas, por vezes complexas, com nosso pensamento voltado para algo completamente diferente.
Por outro lado, a memória declarativa (também chamada explícita) armazena e evoca informação de fatos e de dados levados ao nosso conhecimento através dos sentidos e de processos internos do cérebro, como associação de dados, dedução e criação de idéias. Esse tipo de memória é levado ao nível consciente através de proposições verbais, imagens, sons etc. A memória declarativa inclui a memória de fatos vivenciados pela pessoa (memória episódica) e de informações adquiridas pela transmissão do saber de forma escrita, visual e sonora (memória semântica).
Analisando a memória quanto ao tempo de armazenamento das informações, pode-se classificá-la em memória de trabalho, memória de curto prazo e memória de longo prazo.
A memória de trabalho, que alguns acreditam ser parte da memória de curto prazo, atua no momento em que a informação está sendo adquirida, retém essa informação por alguns segundos e a destina para ser guardada por períodos mais longos ou a descarta. Quando alguém nos diz um número de telefone para ser discado, essa informação pode ser guardada se for um número que nos interessará no futuro ou ser prontamente descartada após o uso. A memória de trabalho pode, ainda, armazenar dados por via inconsciente.
A memória de curto prazo trabalha com dados por algumas horas até que sejam gravados de forma definitiva. Este tipo de memória é particularmente importante nos de cunho declarativo. Em caso de algum tipo de agressão ao cérebro enquanto as informações estão armazenadas neste estágio da memória, ocorrerá sua perda irreparável.
A memória de longo prazo é a que retém de forma definitiva a informação, permitindo sua recuperação ou evocação. Nela estão contidos todos os nossos dados autobiográficos e todo nosso conhecimento. Sua capacidade é praticamente ilimitada.
Não há uma estrutura ou uma determinada porção do cérebro reconhecidamente depositária de informações, embora se acredite que o lobo temporal esteja envolvido com a memória dos eventos do passado. Entretanto, são conhecidas várias estruturas cerebrais envolvidas com a aquisição e o processo de armazenamento de dados.


Mecanismos da memória


Ainda não se conhece definitivamente o mecanismo, ou os mecanismos, pelo qual o cérebro adquire, armazena e evoca as informações.
Não obstante, alguns modelos são propostos para explicar essa função do cérebro humano.
O primeiro dos modelos propostos, tem como base a atividade elétrica cerebral. Assim, a informação seria guardada em circuitos elétricos, ditos reverberantes. Evidência desse mecanismo é obtida pela existência de conexões neuronais recorrentes, ou seja, ramificações da célula nervosa (neurônio) que voltam ao seu próprio corpo, reestimulando-a. É possível que esse mecanismo esteja presente na manutenção das informações nas memórias de trabalho e de curto prazo.
O segundo modelo baseia-se na produção de substâncias químicas que conteriam um código relacionado às informações. Esse modelo supõe que os neurônios possam sintetizar ARN (ácido ribonucléico) e que esta substância conteria um código da memória da mesma forma que o ADN (ácido desoxirribonucléico) contém a codificação genética. Embora se tenha verificado aumento da síntese de ARN em fases de aprendizado, atualmente acredita-se que essa síntese seja responsável mais pelo funcionamento celular que pela criação de um código químico, de forma a ter-se relegado a um segundo plano essa hipótese.
Outro modelo pressupõe a alteração das conexões entre os neurônios, sendo denominado modelo conexionista. Todos os neurônios emitem ramificações que se comunicam com outros neurônios, tendo umas, caráter estimulante e outras, caráter inibitório para a célula a que se destinam.
A transmissão do impulso nervoso é feita no ponto de encontro dessas ramificações com a célula alvo, ponto esse denominado sinapse. Haveria alteração da função sináptica criando novos circuitos neuronais e seriam esses circuitos que codificam as informações. Esse modelo tornou-se bastante plausível depois que se comprovou, experimentalmente, o aumento da resposta sináptica com a aplicação de estímulos repetitivos. Assim, acredita-se que o substrato da memória é o aumento da função sináptica (hipertrofia) ou a criação de novas sinapses. Esse modelo é bastante interessante, pois, além de esclarecer como são guardadas as informações, permite explicar, também, a atenuação das lembranças, fenômeno conhecido por todos e que seria devido à diminuição da função sináptica causada pelo desuso.


Amnésia


A amnésia é uma entidade patológica provocada por diversas causas em que o indivíduo perde a capacidade de reter informações novas (amnésia anterógrada) ou de evocar as antigas (amnésia retrógrada).
As amnésias são sempre causadas por agressões ao cérebro que podem ter caráter transitório ou permanente, sendo algumas delas destacadas a seguir.
Síndrome de Korsakoff. Essa doença foi descrita como decorrência de alcoolismo crônico, podendo, no entanto, decorrer de outras causas. A amnésia é o sintoma predominante nessa síndrome, sendo caracteristicamente do tipo anterógrado.
Amnésia traumática. As pessoas que sofrem um trauma de crânio de certa intensidade, muito freqüentemente, esquecem-se dos fatos que ocorreram minutos antes do trauma (amnésia retrógrada) e, também, dos fatos que ocorrem após o trauma (amnésia anterógrada), embora não percam a consciência. Há uma certa relação de proporcionalidade entre a intensidade do trauma e o tempo de amnésia.
Amnésia global. Essa forma de amnésia está relacionada com um grave e difuso comprometimento cerebral. Há, de forma definitiva, amnésia tanto anterógrada quanto retrógrada, ou seja, o indivíduo perde a capacidade de reter novas informações e de evocar seu estoque antigo de informações. Tal situação ocorre em demências, traumas muito graves e intoxicações por monóxido de carbono.
Amnésia global transitória. Nessa situação a amnésia dura algumas horas, não ultrapassando um dia, e a recuperação é completa. O indivíduo tem comportamento normal, porém não retém nenhuma informação durante o episódio, ou seja, tem amnésia anterógrada completa, permanecendo uma lacuna na memória dessa pessoa depois da recuperação. A causa desse problema não está, ainda, totalmente esclarecida, parecendo estar ligada à isquemia transitória afetando as partes internas do lobo temporal. Essa patologia tem curso benigno, sendo excepcional um segundo episódio.
Amnésia pós-operatória. Há cerca de 50 anos, um neurocirurgião americano, para poder tratar um paciente com crises convulsivas que não melhorava com remédios, fez uma cirurgia retirando, de ambos os lados, certas partes do lobo temporal (hipocampo e porção medial). Esse paciente obteve um controle das crises, mas ficou com amnésia anterógrada muito intensa e, até hoje, põe-se em dúvida se o benefício obtido valeu pelo déficit adquirido. Quanto à lembrança de fatos e conhecimentos anteriores à cirurgia, esse paciente não sofreu alteração.

Esquecimento

Ao contrário da amnésia em que há perda de uma capacidade, o esquecimento é uma falha na retenção ou na evocação dos dados da memória.
Trata-se de fenômeno muito comum que, em maior ou menos grau, ocorre com qualquer pessoa.
No entanto, é cada vez maior o número de pessoas que se sentem incomodadas com o problema e que buscam solução.
A principal questão no que se refere ao esquecimento é saber sua causa. Alguns postulam que ocorre uma debilitação dos traços de memória com o passar dos anos. Outros, no entanto, acreditam que novos conhecimentos podem interferir prejudicando a memória.
O desuso provocaria um enfraquecimento dos circuitos da memória, conforme o modelo conexionista, tornando cada vez mais difícil o acesso a essas informações. Isto pode explicar parte do problema, mas não todo ele. É fato que com o passar da idade as pessoas têm mais dificuldade para lembrar de fatos passados, porém essa dificuldade é mais intensa para os fatos recentes enquanto fatos remotos marcantes, ainda que não utilizados com freqüência, podem ser lembrados facilmente, inclusive em detalhes.
Considerando-se a interferência, sabe-se que um novo aprendizado pode interferir com um antigo que lhe guarde alguma semelhança ou que lhe possa ser associado. Assim, a cada nova informação haveria modificação naquelas já sedimentadas. O acúmulo de informações ao longo do tempo faria com que pessoas de mais idade tivessem maior dificuldade em relação à evocação da memória.
Nenhuma dessas causas explica totalmente a ocorrência do esquecimento, mas não podem ser descartadas como componentes do problema.
Há, no entanto, um outro importante aspecto a ser considerado.
Não é possível evocar uma informação se ela não foi devidamente arquivada. Para que o ser humano possa reter na memória uma determinada informação, é necessário que sua atenção esteja voltada para isso. Sem atenção, não há qualquer possibilidade de se guardar um fato e sem guardá-lo, não há como recuperá-lo depois.
O combate ao esquecimento deve levar em consideração a atenção e o poder de concentração, bem como os fatores que os facilitam ou os dificultam. Também se deve atentar para os fenômenos do desuso e da interferência de novos aprendizados.

Fatores interferentes

O cérebro humano está sujeito a estímulos externos através dos sentidos, a estímulos internos advindos do organismo e a estímulos de ordem emocional. Há quem acredite que o ser humano só consegue pensar porque há uma interação desses estímulos.
Com a atenção e o poder de concentração não é diferente. Assim, há fatores externos e internos que facilitam ou dificultam a atenção.
O interesse pessoal sobre determinado assunto faz com que certas pessoas possam quase que decorar informações com uma única e simples leitura. É de conhecimento geral que quanto maior o interesse mais facilmente se aprende.
A vivência de fatos com alta carga emocional, faz com que os mesmos permaneçam para sempre na memória. São os chamados fatos marcantes na vida de uma pessoa que, mesmo ocorrendo uma única vez, não são jamais esquecidos.
Por outro lado, as preocupações com os problemas diários, a ansiedade e, em muitos casos, a depressão, são fatores que turvam a atenção e, como conseqüência, impedem a retenção de informações novas, gerando a impressão de que a “memória está falhando”.
Esses fatores normalmente não afetam diretamente a memória mas sim a atenção e a concentração. No entanto, quando muito intensos podem provocar alterações temporárias da memória. É o caso dos conhecidos “brancos” que ocorrem em situações de ansiedade intensa.
Há, ainda, um outro fator ao qual se começa a dar atenção. Trata-se da relação e possível interferência entre as memórias explícitas e implícitas.
Toda atividade humana, inclusive as puramente intelectuais, tendem a ser automatizadas. Muitas de nossas atividades são repetidas diariamente e ao longo do tempo vão deixando de ser conscientes passando a ser executadas sem que dediquemos a elas a menor atenção. Com o passar da idade, a maioria das pessoas passa a só executar atividades e tarefas que já realizou um sem-número de vezes e isso, evidentemente, dificulta sua atenção e, conseqüentemente, a retenção na memória dos fatos ocorridos e das informações veiculadas nesse período. Esse fenômeno é mais comum do que se imagina, e tem como exemplo a leitura automática, em que o leitor ao cabo de uma página não consegue se lembrar de uma linha sequer.
A maioria das pessoas com problema de esquecimento, na realidade nada tem de errado com sua memória, mas sim com os mecanismos que levam a informação até a memória.
A memória humana e a escrita
O ser humano desenvolveu a capacidade de transmitir conhecimento a seus semelhantes. Talvez tenha sido essa capacidade que permitiu sua sobrevivência como espécie e, certamente, foi ela que lhe deu a supremacia na escala evolutiva.
Nos primórdios da civilização bastou que esse conhecimento fosse transmitido por uma linguagem que misturava sons e gestos. Como isso era transmitido de geração em geração e como quem conta um conto aumenta um ponto, criaram-se histórias fantásticas. Surgiram as lendas das quais até hoje temos notícia.
Durante a era do gelo a humanidade sobreviveu graças à caça de grandes animais, mas ela terminou. O ambiente mudou radicalmente e o ser humano foi obrigado a encontrar outras fontes de alimentação. Daí surgiu a agricultura e, com ela, a sedentarização, a organização social em cidades e o acúmulo de riquezas.
A humanidade percebeu que não havia mais como confiar somente na memória e, por volta do ano 3.100 a.C., surgiu a escrita. No princípio, era um simples rol de riquezas estocadas em armazéns, mas logo o homem começou a usá-la com finalidade religiosa, cultural e comercial.
Com o grande salto cultural dado pelos gregos no período clássico, a escrita tornou-se o principal instrumento na transmissão do saber e, paralelamente, um instrumento de poder político.
No entanto, a escrita não foi aceita por todos. Platão, através de Sócrates em seu diálogo com Fedro, nos traz ao conhecimento uma lenda egípcia. Thot, deus a quem era consagrada a ave íbis, inventou os números e o cálculo, a geometria e a astronomia, o jogo de damas e os dados, e a escrita. Durante o reinado de Tamuz, o deus ofereceu-lhe suas invenções, dizendo-lhe para ensiná-las a todos os egípcios. Mas Tamuz quis saber de suas utilidades e, enquanto o deus explicava, o faraó censurava ou elogiava, conforme essas artes lhe parecessem boas ou más. Quando chegaram à escrita Thot disse que aquela arte tornaria os egípcios mais sábios e lhes fortaleceria a memória.
No entanto, Tamuz respondeu-lhe que a escrita tornaria os homens esquecidos, pois deixariam de cultivar a memória. Ao confiar apenas nos livros, só se lembrariam de um assunto exteriormente e por meio de sinais, e não em si mesmos. Os homens tornar-se-iam sábios imaginários.
Nesse mesmo diálogo, Sócrates considera a escrita como algo que limita o pensamento, que engessa as idéias. Um discurso escrito, dizia ele, será sempre o mesmo, repetido inúmeras vezes sem que se possa agregar novas idéias.
Ironicamente, se hoje sabemos muito da filosofia de Sócrates é porque Platão a escreveu.
Analisando a questão frente a nossos conhecimentos sobre a memória humana, podemos, no entanto, afirmar que escrever é uma forma salutar de ampliar nosso banco de dados. Salutar porque é preciso esquecer para poder lembrar. Explicando, nossa memória não pode guardar absolutamente todas as informações que lhe chegam, sob risco de bloqueio.
É armazenando somente o que interessa e associando convenientemente os dados estocados que a memória pode ser evocada.
De qualquer forma, a escrita está aí, imutável ao longo do tempo (a não ser, claro, em algumas dessas péssimas traduções com que por vezes nos deparamos), pronta para ser consultada quando precisamos e, sobretudo, liberando o cérebro humano para a associação dos conhecimentos armazenados e a criação de novas idéias.
A título de ilustração, sabe-se que com treinamento intenso e adequado, uma pessoa pode reter uma seqüência de 50, 100 algarismos. No entanto, com papel e lápis qualquer um terá a mesma seqüência guardada, com um mínimo de esforço.
Finalizando, não podemos nos esquecer do que dizia Confúcio......Bem, ele dizia......O que mesmo ele dizia?........Acho que me esqueci, teria sido melhor escrever.

Aqui:
http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/519/memoria

domingo, 16 de maio de 2010

MEMÓRIA

in: "Público"

"Por impedimento pessoal, a crónica dominical de frei Dento Domingues não é publicada hoje, voltando no próximo domingo, 23 de Maio", diz o jornal. Mas há Paulo Varela Gomes, um cronista (historiador) que aprecio. Fala da pedofilia do clero, do celibato, da revolução sexual.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5xklQnmJlpcYRJQvOWAAE_bmBkvGSMWAdlVQvwcCWz-g3zw9ik9Lfmo89uf3Vj1NYdZjqpvnY9XGlkhy3QoBWzPouZy7ZTztlH8gcQytq4kVCs_vLXVJE1eTLEHC3zwkm20W0VvZ6Fa4/s1600/PVGReclus%C3%A3o.jpg



http://esquecime-ap.blogspot.com/

Ler mais
http://tribodejacob.blogspot.com/

sábado, 15 de maio de 2010

Ocaso

Em Fevereiro, o dia quase exangue,
era azul claro e rosa a cor do céu.
Depois escureceu; tornou-se cor de
chumbo
e cor de sangue.
Talvez anjos brincando na imensidão
etérea
ou, simplesmente,
a interacção da luz com a matéria.
O Sol vai imergindo por detrás do monte
e no horizonte destaca-se a silhueta de
um sobreiro.
Difusa, voa rasante uma cotovia
E é então que, no céu,
Vénus se anuncia.

Regina Gouveia, Magnetismo Terrestre, Campo de Letras, 2006

RUY BELO

Mesmo que não conheças nem o mês nem o lugar
caminha para o mar pelo verão.


Ruy Belo

quinta-feira, 13 de maio de 2010

PEREGRINO

“O que é ser peregrino?”

Ser peregrino é saber que uma grande caminhada
Começa sempre com um pequeno passo
Ser peregrino é não saber quanto falta para chegar
Ser peregrino é saber continuar apesar de tudo
Ser peregrino é aceitar tudo o que a vida traz
Ser peregrino é aguentar as subidas
e descansar nas descidas
Ser peregrino é suportar e saborear
sol, chuva, calor, vento, frio
Ser peregrino é integrar
o sofrimento e as dores num contexto maior
Ser peregrino é ter a humildade de pedir ajuda
Ser peregrino é ter a humildade
de não continuar quando já não dá mais
Ser peregrino é largar o conforto
Dos passos e lugares já conquistados
Ser peregrino é alternar entre olhar o chão que se pisa
e o destino que se procura
Ser peregrino é passar fronteiras atrás de fronteiras,
a caminho do Ser Total

aqui

http://joaodelicadosj.blogspot.com/

Ser peregrino
http://www.youtube.com/watch?v=DWNOYlRwm00&feature=player_embedded

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Uma visão sábia sobre a vida e sobre o mundo

Senhor Presidente da República,
Ilustres Autoridades da Nação,
Venerados Irmãos no Episcopado,
Senhoras e Senhores!

Só agora me foi possível aceder aos amáveis convites do Senhor Presidente e dos meus Irmãos Bispos para visitar esta amada e antiga Nação, que comemora no corrente ano um século da proclamação da República. Ao pisar o seu solo pela primeira vez desde que a Providência divina me chamou à Sé de Pedro, sinto-me honrado e agradecido pela presença deferente e acolhedora de todos vós.

Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas cordiais expressões de boasvindas, dando voz aos sentimentos e esperanças do bom povo português. Para todos, independentemente da sua fé e religião, vai a minha saudação amiga, com um pensamento particular para quantos não podem vir ao meu encontro. Venho como peregrino de Nossa Senhora de Fátima, investido pelo Alto na missão de confirmar os meus irmãos que avançam na sua peregrinação a caminho do Céu.

Logo aos alvores da nacionalidade, o povo português voltou-se para o Sucessor de Pedro esperando na sua arbitragem para ver reconhecida a própria existência como Nação; mais tarde, um meu Predecessor havia de honrar Portugal, na pessoa do seu Rei, com o título de fidelíssimo (cf. Pio II, Bula Dum tuam, 25/I/1460), por altos e continuados serviços à causa do Evangelho.
Que depois, há 93 anos, o Céu se abrisse precisamente sobre Portugal – como uma janela de esperança que Deus abre quando o homem lhe fecha a porta – para reatar, no seio da família humana, os laços da solidariedade fraterna assente no mútuo reconhecimento de um só e mesmo Pai, trata-se de um amoroso desígnio de Deus; não dependeu do Papa nem de qualquer outra autoridade eclesial: «Não foi a Igreja que impôs Fátima – diria o Cardeal Manuel Cerejeira, de veneranda memória –, mas Fátima que se impôs à Igreja».
Veio do Céu a Virgem Maria para nos recordar verdades do Evangelho que são para a humanidade, fria de amor e desesperada de salvação, fonte de esperança. Naturalmente esta esperança tem como dimensão primária e radical, não a relação horizontal, mas a vertical e transcendente. A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade na sua estrutura cognitiva, tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética. A consciência é cristã na medida em que se abre à plenitude da vida e da sabedoria, que temos em Jesus Cristo. A visita, que agora inicio sob o signo da esperança, pretende ser uma proposta de sabedoria e de missão.
De uma visão sábia sobre a vida e sobre o mundo deriva o ordenamento justo da sociedade. Situada na história, a Igreja está aberta a colaborar com quem não marginaliza nem privatiza a essencial consideração do sentido humano da vida. Não se trata de um confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma questão de sentido à qual se entrega a própria liberdade. O que divide é o valor dado à problemática do sentido e a sua implicação na vida pública. A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja, que as duas Concordatas de 1940 e 2004 formalizariam, em contextos culturais e perspectivas eclesiais bem demarcados por rápida mudança. Os sofrimentos causados pelas mutações foram enfrentados geralmente com coragem.
Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio

Bento XVI

terça-feira, 11 de maio de 2010

Linton Kwesi Johnson

Linton Kwesi Johnson- Sonny´s Lettah



http://www.youtube.com/watch?v=ls9pSdVFaJU&feature=player_embedded

segunda-feira, 10 de maio de 2010

SÉRGIO GODINHO

O primeiro dia... - Sérgio Godinho

A principio é simples, anda-se sozinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no burburinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

domingo, 9 de maio de 2010

MIGUEL TORGA

Viagem


É o vento que me leva.
O vento lusitano.
É este sopro humano
Universal
Que enfuna a inquietação de Portugal.
É esta fúria de loucura mansa
Que tudo alcança
Sem alcançar.
Que vai de céu em céu,
De mar em mar,
Até nunca chegar.
E esta tentação de me encontrar
Mais rico de amargura
Nas pausas da ventura
De me procurar...

Miguel Torga, in 'Diário XII'

sábado, 8 de maio de 2010

Sérgio Godinho

Sérgio Godinho - -Espalhem a nootícia

http://www.youtube.com/watch?v=jh1aK3qwmuc&feature=player_embedded

RITA FERRO

"A vida obriga-nos diariamente a caminhar em dois sentidos opostos: um, de aprimoramento pessoal da índole, do carácter, da mística, da honra, da grandeza, da humildade.
O outro, de sobrevivência pura, induz-nos a pequenas corrupções e cavalarias diárias que, além de nos enojarem, nos vão afastando cada vez mais desse projecto de perfeição.
E, uma vez por outra, lá chega o balanço e o encontro de contas.
É tramado."

Rita Ferro

sexta-feira, 7 de maio de 2010

RUI ZINK

O QUE SOUBE SEMPRE SOBRE DAS MULHERES,
MAS TIVE À MESMA DE PERGUNTAR

Tratam-nos mal, mas querem que as tratemos bem. Apaixonam-se por serial-killers e depois queixam-se que nem um postalinho. Escrevem que se desunham. Fingem acreditar nas nossas mentiras desde que tenhamos piada a pregá-las. Aceitam-nos e toleram-nos por que se acham superiores. São superiores. Não têm o gene da violência, mas é melhor não as provocarmos. Perdoam facilmente, mas nunca esquecem. Bebem cicuta ao pequeno-almoço e destilam mel ao jantar. Têm uma capacidade de entrega que até dói. São óptimas mães até os filhos terem dez anos, depois perdem o norte. Pelam-se por jogos eróticos, mas com o sexo já depende. Têm dias. Têm noites. Conseguem ser calculistas e maldosas como qualquer homem, só que com muito mais nível. Inventaram o telemóvel ao volante. São corajosas e quando se lhes mete uma coisa na cabeça levam tudo à frente. Fazem-se de parvas porque o seguro morreu de velho e estão muito escaldadas. Fazem-se de inocentes e ( milagre ! ) por esse acto de vontade tornam-se mesmo inocentes. Nunca perdem a capacidade de se deslumbrarem. Riem quando estão tristes, choram quando estão felizes. Não compreendem nada. Compreendem tudo. Sabem que o corpo é passageiro. Sabem que na viagem há que tratar bem o passageiro e que o amor é um bom fio condutor. Não são de confiança, mas até a mais infiel das mulheres é mais leal que o mais fiel dos homens. São tramadas. Comem-nos as papas na cabeça, mas depois levam-nos a colher à bôca. A única coisa em nós que é para elas um mistério é a jantarada de amigos – elas quando jogam é para ganhar. E é tudo. Ah, não, há mais uma coisa. Acreditam no Amor com A grande mas, para nossa sorte, contentam-se com pouco.


Rui Zink

no Lobby
http://umgrandehotel.blogspot.com/

quinta-feira, 6 de maio de 2010

MAR

A onda corre

quarta-feira, 5 de maio de 2010

NO ANIVERSÁRIO DA DIVA

Passam por nós os anos, ígneos pássaros
apressados, e caem muitas penas
Passam por nós os anos, são cavalos
nervosos frente aos toiros nas arenas

Mas não envelhecemos sempre esperançados
na juventude eterna que não deixa marcas
Estamos marcados desde que nascemos,
transviados por onde não há estradas:

somente caminhadas sem sair de becos,
miragens de desertos nos confins das ilhas
Passam por nós os anos e só fica
um sulco que se fecha na memória ferida

antónio barahona

|Lisboa,1939|

sábado, 1 de maio de 2010

SANTO AGOSTINHO

«Se conhecesses o mistério imenso do céu
onde agora vivo, este horizonte sem fim,
esta luz que tudo reveste e penetra,
não chorarias, se me amas!
Estou já absorvido no encanto de Deus,
na sua infindável beleza.
Permanece em mim o teu amor, uma
enorme ternura que nem tu consegues
imaginar.

Vivo numa alegria puríssima.
Nas angústias do tempo pensa nesta casa
onde um dia estaremos reunidos para além
da morte, matando a sede na fonte
inesgotável da alegria e do amor infinito.
Não chores, se verdadeiramente me amas!»

Santo Agostinho