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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

OS POETAS - O Navio de Espelhos



O navio de espelhos


não navega, cavalga



Seu mar é a floresta


que lhe serve de nível



Ao crepúsculo espelha


sol e lua nos flancos



Por isso o tempo gosta


de deitar-se com ele



Os armadores não amam


A sua rota clara



(Vista do movimento


dir-se-ia que pára)



Quando chega à cidade


nenhum cais o abriga



O seu porão traz nada


nada leva à partida



Vozes e ar pesado


é tudo o que transporta



E no mastro espelhado


uma espécie de porta



Seus dez mil capitães


têm o mesmo rosto



A mesma cinta escura


o mesmo grau e posto



Quando um se revolta


há dez mil insurrectos



(Como os olhos da mosca


reflectem os objectos)



E quando um deles ala


o corpo sobre os mastros


e escruta o mar do fundo



Toda a nave cavalga


(como no espaço os astros)



Do princípio do mundo


até ao fim do mundo






Mário Cesariny


A Cidade Queimada


Lisboa, Assírio & Alvim, 2000

http://youtu.be/gbT8l8YyORo

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