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sábado, 29 de janeiro de 2011

Amanhecer

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Nunca, até então, a vida me havia acontecido de dia. Nunca à luz do sol. Só nas minhas noites é que o mundo se revolvia lentamente. Só que, aquilo que acontecia no escuro da própria noite, também acontecia ao mesmo tempo nas minhas próprias entranhas, e o meu escuro não se diferenciava do escuro de fora, e de manhã, ao abrir os olhos, o mundo continuava sendo uma superfície: a vida secreta da noite em breve se reduzia na boca ao gosto de um pesadelo que some. Mas agora a vida estava acontecendo de dia. Inegável e para ser vista. A menos que eu desviasse os olhos. E eu ainda poderia desviar os olhos.





LISPECTOR. Clarice, 1925 – 1977
A Paixão Segundo G.H.
Rio de Janeiro: Rocco, 1973, p.


via
http://yaagob.blogspot.com/

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