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sábado, 7 de janeiro de 2012

Passeamos por cidades insensatas como robôs. Vamos de um sexo a outro para chegar sempre à mesma casa. Falamos mais ou menos as mesmas coisas, com algumas ligeiras variações. Comemos vegetais ou animais, mas nunca mais do que os disponíveis: em nenhum lugar nos servem a Ave do Paraíso ou a Rosa dos Ventos. Ficamos felizes com aventuras que um computador reduziria a dez ou doze situações ordinárias. A vida seria então, contra tudo o que dizem, a causa de sua chatice, longa demais? Que importância tem viver um ou cem anos? Como o recém-nascido, nada vamos deixar. Como o centenário, nada levaremos, nem a roupa suja, nem o tesouro. Alguns deixarão uma obra, é verdade. Será lindamente editada. Logo, curiosidade de algum colecionador. Mais tarde, citação de um erudito. No fim, algo menos que um nome: uma ignorância.

De Julio Ramón Ribeyro, maior prosador do Peru [1929-1994]. Tirado do belo conjunto de aforismos, miniensaios filosóficos e notas biográficas Prosas Apátridas, Seix Barral [2009]. Trad. RB.


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