A minha Lista de blogues

terça-feira, 27 de abril de 2010

Jorge Luís Borges

Las Cosas


El bastón, las monedas, el llavero,
la dócil cerradura, las tardías
notas que no leerán los pocos días
que me quedan, los naipes y el tablero,
un libro y en sus páginas la ajada
violeta, monumento de una tarde
sin duda inolvidable y ya olvidada,
el rojo espejo occidental en que arde
una ilusoria aurora. Cuántas cosas,
limas, umbrales, atlas, copas, clavos,
nos sirven como tácitos esclavos,
ciegas y extrañamente sigilosas
durarán más allá de nuestro olvido;
no sabrán nunca que nos hemos ido.


Jorge Luís Borges

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Álvaro de Campos

Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.


Álvaro de Campos

Ricardo Reis

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Ricardo Reis

sábado, 24 de abril de 2010

As revoluções

As revoluções eufóricas são muito sonoras,
vêm para a rua, fazem a festa,
deitam foguetes,
apanham as canas e vão-se embora.
O totalitarismo, não.
Deitamo-nos descansados,
embalados na lenda da Bela Adormecida,
e, quando acordamos,
já os gajos estão instalados."

Laura "Bouche" (Séc. XXI)








Uma pequena rapsódia das Canções do 25 de Abril. Adriano Correia de Oliveira - Trova do Vento que Passa; Padre Fanhais - Cantata Da Paz; Fernando Tordo - Tourada; José Mario Branco - O Charlatão; In Clave-Tonicha-Tordo - Portugal Ressuscitado; Sérgio Godinho - Que força é Essa; Luis Cilia - Assim Cantamos; Ermelinda Duarte - Somos Livres; Pedro Barroso - Agua mole em Pedra dura.

terça-feira, 20 de abril de 2010

O que se passou foi isto







Lembras-te, Mãe

do menino que perdeste
e que ficou
mas que fugiu...?

Anda agora pela vida...

É o poeta dos olhos molhados
do sorriso triste
dos dedos longos...

Anda agora pela vida...

E um dia, Mãe
ele há-de voltar
novamente,
para lhe aqueceres as mãos frias
e chorar com ele as ilusões perdidas.

Entretanto,
deixa-o sofrer mais algum tempo.

João José Cochofel, Obra Poética,
Lisboa, Editorial Caminho, 1988

segunda-feira, 19 de abril de 2010

CINEMA

“Precious” Trailer H D

http://www.youtube.com/watch?v=b5FYahzVU44&feature=player_embedded

domingo, 18 de abril de 2010

Fernando Pessoa

A morte chega cedo

A morte chega cedo,
Pois breve é toda vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou.
E tudo isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto.

Fernando Pessoa

O Retrato do Professor

O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
É jovem, não tem experiência.
É velho, está superado.
Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Tem automóvel, chora de "barriga cheia".
Fala em voz alta, vive gritando.
Fala em tom normal, ninguém escuta.
Não falta ao colégio, é um "Adesivo".
Precisa faltar, é um "turista".
Conversa com os outros professores, está "malhando" nos alunos.
Não conversa, é um desligado.
Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Não brinca com a turma, é um chato.
Chama a atenção, é um grosso.
Não chama a atenção, não se sabe impor.
A prova é longa, não dá tempo.
A prova é curta, tira as hipóteses do aluno.
Escreve muito, não explica.
Explica muito, o caderno não tem nada.
Fala correctamente, ninguém entende.
Fala a "língua" do aluno, não tem vocabulário.
Exige, é rude.
Elogia, é debochado.
O aluno é retido, é perseguição.
O aluno é aprovado, deitou "água-benta".
É! O professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele.

http://joaonunomb.spaceblog.com.br/

sábado, 17 de abril de 2010

Lhasa de Sela

Lhasa de Sela-I'm Going In


http://www.youtube.com/watch?v=KPmZKbXHGf8&feature=player_embedded#!

Cemitério de pianos

Casámos sozinhos.


Dois sábados antes, caminhámos juntos até à baixa. Não demos a mão, mas os nossos sorrisos eram apenas um para o outro. Entrámos num armazém de montras com modelos vestidos com a última moda. Ela não demorou muito até apontar para um rolo de tecido: fim de estação, fim de peça. Enquanto trocávamos sorrisos, enquanto acreditávamos mais, os metros foram medidos sobre o balcão.
Foi esse tecido, nem demasiado sóbrio, nem demasiado extravagante, que a costureira riscou com giz, cortou, coseu e, através dessa arte, fez um vestido da maneira que a minha mulher imaginou. Foi esse vestido que ela estreou na manhã de segunda-feira em que nos casámos.
Estava tudo tratado, levávamos os papéis na mão, mas entrámos no registo civil sem sabermos. Fui eu que me aproximei do balcão e, quando passou um senhor a carregar uma pilha de papéis junto ao peito, fui eu que lhe disse bom dia. Não respondeu. Continuou indiferente, zangado com o mundo e com todos os arquivos. Seguimo-lo com o olhar durante minutos que passaram nos ponteiros do relógio que estava pendurado na parede.
Num instante que escolheu, o senhor do registo caminhou na minha direcção, penteou o bigode com os dedos, parou-se no outro lado do balcão e, entediado, como se perguntasse, disse:
- Ora, se faz favor…
Estendi-lhe os papéis e expliquei-lhe que vínhamos casar.
Recebeu os papéis, colocou os óculos e demorou-se a ler o impresso que outro senhor, naquele mesmo balcão, me tinha dado havia mais de um mês. Sem dizer nada, ergueu ligeiramente o rosto e olhou-nos por cima dos óculos. Abriu e fechou, abriu e fechou os outros documentos. Sem dizer nada, levantou a tábua que nos dava acesso ao outro lado do balcão. Seguimo-lo por entre secretárias vazias, pilhas de papéis, armários de dossiers, até chegarmos a uma sala branca. Ele sentou-se a uma mesa, tossiu duas vezes e abriu um livro que cobria todo o tampo da mesa. Nós sentámo-nos em duas cadeiras de madeira grossa.
Sem nunca nos dirigir o rosto, o senhor do registo leu algumas frases com pressa, sem pronunciar as palavras completamente: a misturar palavras: um zumbido de palavras. Nas pausas breves em que se deteve, eu disse sim depois de ouvir o meu nome completo e, pouco depois, ela disse sim. O senhor do registo respirou fundo e soprou durante o tempo que levei a tirar a aliança do bolso e a acertá-la no dedo dela. Ficámos a olhar um para o outro e a sorrirmos enquanto terminou as frases que tinha de dizer. Virou o livro na nossa direcção:
- Assine aqui.
Eu assinei e ela assinou. Foi só nesse momento que o senhor do registo reparou que não tínhamos padrinhos.
- Não têm padrinhos?
Sem esperar pela resposta, levantou-se e atravessou a sala com passos curtos e rápidos. Voltou com um livro grosso que tinha a letra B na lombada. Abriu-o numa página e escolheu-me um padrinho e uma madrinha. Abriu-o noutra página e escolheu um padrinho e uma madrinha para ela. Copiou os nomes para a página do outro livro: Bartolomeu, Belarmina, Baltazar, Belmira. Com caligrafias diferentes, assinou por baixo de cada um.
Saímos leves.
Nesse dia, não fui trabalhar. Na manhã seguinte, quando o meu tio chegou à oficina, não me disse nada.

in “Cemitério de pianos” – José Luís Peixoto

sexta-feira, 16 de abril de 2010

EU

Eu

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca

quinta-feira, 15 de abril de 2010

VULCÃO - AVIAÇÃO

Cinza de vulcão islandês encerra aeroportos europeus


O espaço aéreo do Norte da Europa está interdito praticamente na totalidade, com centenas de voos a serem cancelados devido às cinzas vulcânicas da erupção do vulcão islandês do glaciar Eyjafjallajokull. A nuvem de cinza já chegou aos países escandinavos, ao Reino Unido, à Bélgica, Alemanha e Holanda. Os especialistas temem que os efeitos da erupção do vulcão islandês ainda se façam sentir durante 48 horas.

Nuvem de cinza não deverá atingir Portugal

O vulcão, no glaciar Eyjafjllajokull, no sul da Islândia, registou, ontem, a segunda erupção em menos de um mês, levando a que cerca de 800 pessoas tivessem de ser retiradas de suas casas.
A directora do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica (CIVISA), Teresa Ferreira, disse hoje à Lusa ser “pouco provável” que Portugal venha a ser afectado pelas cinzas do vulcão islandês.
Para esta especialista, a localização do vulcão e a circulação dominante dos ventos na Europa devem afastar as cinzas do território português. “A circulação está a ser para leste, atingindo o Reino Unido e o Norte da Europa, não se prevendo que venha a afectar o nosso território”, disse Teresa Ferreira, alertando, que tudo
depende “da circulação atmosférica em altitude”.

fonte: Página 1

quarta-feira, 14 de abril de 2010

DESENHO

Desenho

Traça a recta e a curva,
a quebrada e a sinuosa.
Tudo é preciso.
De tudo viverás.

Cuida com exactidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projectarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.

Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.

(Cecília Meireles)

terça-feira, 13 de abril de 2010

CECÍLIA MEIRELES

Tranqüila sombra
que me acompanhas,
em pedras rojas,
no ar te levantas,
acompanhando
meus movimentos,
pisada e escrava
por tanto tempo!

Vejo-te e choro
da companhia:
que nem sou tua
nem tu és minha.
E me pertences
e te pertenço,
mais do que à vida
e ao pensamento.

Sombra por sombra
toda abraçada,
levo-te como
anjo da guarda.

Tens tudo quanto
me quero e penso:
- frágil, exata.
(Amor. Silêncio.)

Ao despedir-me
do mundo humano
sei que te extingues
sem voz nem pranto,
no mesmo dia.
Preito como esse
tu, só, me rendes,
sombra que tinha!

Imensa pena,
que assim te deixe,
- ó companheira, -
sem companhia! ...

(Cecília Meireles)

Maria Guinot

Silêncio e tanta gente

Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro o amor em teu olhar
É uma pedra
É um grito
Que nasce em qualquer lugar
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal aquilo que sou
Sou um grito
Ou sou uma pedra
De um lugar onde não estou
Às vezes sou o tempo que tarda em passar
E aquilo em que ninguém quer acreditar
Às vezes sou também
Um sim alegre
Ou um triste não
E troco a minha vida por um dia de ilusão
E troco a minha vida por um dia de ilusão
Às vezes é no meio do silêncio
Que descubro as palavras por dizer
É uma pedra
Ou é um grito
De um amor por acontecer
Às vezes é no meio de tanta gente
Que descubro afinal p'ra onde vou
E esta pedra
E este grito
São a história d'aquilo que eu sou

... na própria voz

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A morte nunca existiu

José Mário Branco voz. Poema de António Joaquim Lança

http://www.youtube.com/watch?v=PAvZgtJFEpg&feature=related

José Mário Branco

Inquietação

http://www.youtube.com/watch?v=olAOazHmn7I

CESÁRIO VERDE

DESASTRE

Ele ia numa maca, em ânsias, contrafeito,
Soltando fundos ais e trémulos queixumes;
Caíra dum andaime e dera com o peito,
Pesada e secamente, em cima duns tapumes.
A brisa que balouça as árvores das praças,
Como uma mãe erguia ao leito os cortinados,
E dentro eu divisei o ungido das desgraças,
Trazendo em sangue negro os membros ensopados.
Um preto, que sustinha o peso dum varal,
Chorava ao murmurar-lhe: "Homem não desfaleça!"
E um lenço esfarrapado em volta da cabeça
Talvez lhe aumentasse a febre cerebral.
Flanavam pelo Aterro os dândis e as cocottes,
Corriam char-à-bancs cheios de passageiros
E ouviam-se canções e estalos de chicotes,
Junto à maré, no Tejo, e as pragas dos cocheiros.
Viam-se os quarteirões da Baixa: um bom poeta,
A rir e a conversar numa cervejaria,
Gritava para alguns: "Que cena tão faceta!
Reparem! Que episódio!" Ele já não gemia.
Findara honradamente. As lutas, afinal,
Deixavam repousar essa criança escrava,
E a gente da província, atónita, exclamava:
"Que providências! Deus! Lá vai para o hospital!"
Por onde o morto passa há grupos, murmurinhos;
Mornas essências vêm duma perfumaria,
E cheira a peixe frito um armazém de vinhos,
Numa travessa escura em que não entra o dia!
Um fidalgote brada a duas prostitutas:
"Que espantos! Um rapaz servente de pedreiro!"
Bisonhos, devagar, passeiam recrutas
E conta-se o que foi na loja dum barbeiro.
Era enjeitado, o pobre. E, para não morrer,
De bagas de suor tinha uma vida cheia;
Levava a um quarto andar cochos de cal e areia,
Não conhecera os pais, nem aprendera a ler.
Depois da sesta, um pouco estonteado e fraco,
Sentira a exalação da tarde abafadiça;
Quebravam-lhe o corpinho o fumo do tabaco
E o fato remendado e sujo da caliça.
Gastara o seu salário - oito vinténs ou menos-,
Ao longe o mar, que abismo! e o sol, que labareda!
"Os vultos, lá em baixo, oh! como são pequenos!"
E estremeceu, rolou nas atracções da queda.
O mísero a doença, as privações cruéis
Soubera repelir - ataques desumanos!
Chamavam-lhe garoto! E apenas com seis anos
Andara a apregoar diários de dez-réis.
Anoitecia então. O féretro sinistro
Cruzou com um coupé seguido dum correio,
E um democrata disse: "Aonde irás, ministro!
Comprar um eleitor? Adormecer num seio?"
E eu tive uma suspeita. Aquele cavalheiro,
- Conservador, que esmaga o povo com impostos-,
Mandava arremessar - que gozo! estar solteiro!
Os filhos naturais à roda dos expostos ...
Mas não, não pode ser... Deite-se um grande véu ...
De resto, a dignidade e a corrupção ... que sonhos!
Todos os figurões cortejam-no risonhos
E um padre que ali vai tirou-lhe o solidéu.
E o desgraçado? Ah! Ah! Foi para a vala imensa,
Na tumba, e sem o adeus dos rudes camaradas:
Isto porque o patrão negou-lhes a licença,
O Inverno estava à porta e as obras atrasadas.
E antes, ao soletrar a narração do facto,
Vinda numa local hipócrita e ligeira,
Berrara ao empreiteiro, um tanto estupefacto:
"Morreu! Pois não caísse! Alguma bebedeira!"

domingo, 11 de abril de 2010

RUA DA SAUDADE

Ary dos Santos




Rua da Saudade – Retalhos – Luanda Cozetty

http://www.youtube.com/watch?v=yLAVpFhUtRs&feature=related



Rua da Saudade – Cavalo à solta - Viviane


http://www.youtube.com/watch?v=7tcTrOq_vao&NR=1



Rua da Saudade – Canção de Madrugar - Susana Félix

http://www.youtube.com/watch?v=QIF0DVePf3w&feature=player_embedded

sábado, 10 de abril de 2010

MÚSICA

Pearl Jam - Better Man


http://www.youtube.com/watch?v=1JLztfosqik&feature=player_embedded#




Matt Morris - "Bloodline"


http://www.youtube.com/watch?v=V5Tdf6M_Ce4&feature=player_embedded#

sexta-feira, 9 de abril de 2010

JOÃO ALMEIDA

Em tempo de miséria


desço por um jardim transparente
entre lodo e hortelã

andam assistentes sociais pelo bosque
à procura de pobres
agitam contas e berlindes

acaba aqui a rédea solta, há que escolher as armas

troco à sombra do derradeiro cipreste
dois versos e um dedo
por uma noite de sono e um detonador








joão almeida
resumo
a poesia em 2009
assírio & alvim
2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Atlas Shrugged

Atlas Shrugged, Ayn Rand escreveu

“Não deixe sua chama se apagar com a indiferença.
Nos pântanos desesperançosos do ainda, do agora não.
Não permita que o herói na sua alma padeça frustrado e solitário com a vida que ele merecia, mas nunca foi capaz de alcançar.
Podemos alcançar o mundo que desejamos. Ele existe.
É real.
É possível.
É seu.”

La Chanson Noire

La Chanson Noire - O Bordel de Lucifer


http://www.youtube.com/watch?v=8cTLaUKeCFQ&feature=player_embedded#

The Stranglers

The Stranglers - La Folie


http://www.youtube.com/watch?v=WzB8vpK_SI8&feature=player_embedded

Pablo Neruda

Pablo Neruda


Morre lentamente



Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos,
quem não muda de marca,
não arrisca vestir uma cor nova e não fala com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão seu guru.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o negro ao invés do branco e os pingos nos iis a um
redemoinho de emoções,
exactamente o que resgata o brilho nos olhos,
o sorriso nos lábios e coração aos tropeços.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no
trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho.

Morre lentamente quem não se permite, pelo menos uma vez na vida,
ouvir conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem passa os dias queixando se da sua má sorte,
ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem destrói seu amor próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá lo,
nunca pergunta sobre um assunto que desconhece e nem responde quando
lheperguntam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em suaves porções, recordando sempre que estar vivo
exige um esforço muito maior que o simples ar que
respiramos.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

PABLO NERUDA

Quem morre?


Morre lentamente
quem se transforma em escravo do hábito,
repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa
com quem não conhece.
Morre lentamente
quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente
quem evita uma paixão,
quem prefere o negro sobre o branco
e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções,
justamente as que resgatam o brilho dos olhos,
sorrisos dos bocejos,
corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente
quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,
quem não se permite pelo menos uma vez na vida,
fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente
quem não viaja,
quem não lê,
quem não ouve música,
quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente,
quem passa os dias queixando-se da sua má sorte
ou da chuva incessante.
Morre lentamente,
quem abandona um projecto antes de iniciá-lo,
não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior
que o simples fato de respirar. Somente a perseverança
fará com que conquistemos
um estágio esplêndido de felicidade.

Pablo Neruda

terça-feira, 6 de abril de 2010

SONETO DE ANIVERSÁRIO

Passem-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.
Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.
E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.

Vinicius de Moraes (Rio, 1942)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

REFLECÇÃO

Para Reflecção - Sobre a Vida


Escrito por Regina Brett (90 anos), em The Plain Dealer, Cleveland, Ohio.

"Para celebrar o meu envelhecimento, certo dia eu escrevi as 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais solicitada que eu já escrevi”.

Meu hodômetro passou dos 90 em agosto, portanto aqui vai a coluna mais uma vez:


1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, dê somente, o próximo passo, pequeno.

3. A vida é muito curta para desperdiçá-la odiando alguém.

4. Seu trabalho não cuidará de você quando você ficar doente. Seus amigos e familiares cuidarão. Permaneça em contato.

5. Pague mensalmente seus cartões de crédito.

6. Você não tem que ganhar todas as vezes. Concorde em discordar.

7. Chore com alguém. Cura melhor do que chorar sozinho.

8. É bom ficar bravo com Deus. Ele pode suportar isso.

9. Economize para a aposentadoria começando com seu primeiro salário.

10. Quanto a chocolate, é inútil resistir.

11. Faça as pazes com seu passado, assim ele não atrapalha o presente.

12. É bom deixar suas crianças verem que você chora.

13. Não compare sua vida com a dos outros.. Você não tem idéia do que é a jornada deles.

14. Se um relacionamento tiver que ser um segredo, você não deveria entrar nele.

15. Tudo pode mudar num piscar de olhos. Mas não se preocupe; Deus nunca pisca.

16. Respire fundo. Isso acalma a mente.

17. Livre-se de qualquer coisa que não seja útil, bonito ou alegre.

18. Qualquer coisa que não o matar o tornará realmente mais forte.

19. Nunca é muito tarde para ter uma infância feliz. Mas a segunda vez é por sua conta e ninguém mais.

20. Quando se trata do que você ama na vida, não aceite um não como resposta.

21. Acenda as velas, use os lençóis bonitos, use lingerie chic. Não guarde isto para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Prepare-se mais do que o necessário, depois siga com o fluxo.

23. Seja excêntrica agora. Não espere pela velhice para vestir roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém mais é responsável pela sua felicidade, somente você...

26. Enquadre todos os assim chamados “desastres” com estas palavras 'Em cinco anos, isto importará?’

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todo mundo.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo ao tempo.

31. Não importa quão boa ou ruim é uma situação, ela mudará.

32. Não se leve muito a sério. Ninguém faz isso.

33. Acredite em milagres.

34. Deus ama você porque ele é Deus, não por causa de qualquer coisa que você fez ou não fez.

35. Não faça auditoria na vida. Destaque-se e aproveite-a ao máximo agora.

36. Envelhecer ganha da alternativa -- morrer jovem.

37. Suas crianças têm apenas uma infância.

38. Tudo que verdadeiramente importa no final é que você amou.

39. Saia de casa todos os dias. Os milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos nós colocássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos todos os outros como eles são, nós pegaríamos nossos mesmos problemas de volta.

41. A inveja é uma perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor ainda está por vir.

43. Não importa como você se sente, levante-se, vista-se bem e apareça.

44. Produza!

45. A vida não está amarrada com um laço, mas ainda é um presente.

Clarice Lispector

«Ela notou que ainda não adormecera, pensou que ainda havia de estalar em fogo aberto. Que terminaria uma vez a longa gestação da infância e de sua dolorosa imaturidade rebentaria seu próprio ser, enfim, enfim livre! Não, não, nenhum Deus, quero estar só. E um dia virá, sim, um dia virá em mim a capacidade tão vermelha e afirmativa quanto clara e suave, um dia o que eu fizer será cegamente seguramente inconscientemente, pisando em mim, na minha verdade, tão integralmente lançada no que fizer que serei incapaz de falar, sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! o que eu disser soará fatal e inteiro! não haverá nenhum espaço dentro de mim para eu saber que existe o tempo, os homens, as dimensões, não haverá nenhum espaço dentro de mim para notar sequer que estarei criando instante por instante, não instante por instante: sempre fundido, porque então viverei, só então viverei maior do que na infância, serei brutal e malfeita como uma pedra, serei leve e vaga como o que se sente e não se entende, me ultrapassarei em ondas, ah, Deus, e que tudo venha e caia sobre mim, até a incompreensão de mim mesma em certos momentos brancos porque basta me cumprir e então nada impedirá meu caminho até a morte-sem-medo, de qualquer luta ou descanso me levantarei forte e bela como um cavalo novo.»

Clarice Lispector

Perto do Coração Selvagem


«Ele estava só. Estava abandonado, feliz, perto do selvagem coração da vida». (James Joyce)

domingo, 4 de abril de 2010

JORGE DE SENA

Génesis

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.
Nem de existir,que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.
Por mais justiça ... -Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade... Ó transfusão dos povos!
Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

Jorge de Sena

A Grande Porca









Memória para Esther Greenwood


Vou tomar um banho quente
medito no banho
a água deve estar muito quente
tão quente que deves aguentar
com dificuldade
o pé dentro de água
então desces o teu corpo
centímetro a centímetro
até que a água chegue ao pescoço
lembro-me dos tectos
por cima de todas as banheiras
em que estive
lembro-me da textura dos tectos
das rachas
e das cores
e das lâmpadas
também me lembro das banheiras
nunca me sinto tanto eu mesma
como quando estou dentro de um banho quente
não acredito no baptismo
nem nas águas do Jordão
nem em nenhuma coisa desse género
mas pressinto que para mim
um banho quente
é como a água sagrada
para essas pessoas religiosas
quanto mais tempo permaneço na água quente
mais pura me sinto
e quando me embrulho numa toalha
grande branca macia
sinto-me pura e fresca
como um recém-nascido

Primeiro poema do primeiro livro de poesia publicado por
Adília Lopes

sexta-feira, 2 de abril de 2010

FOTOGRAFIA

War Photographer - James Nachtwey (part 1/10)

http://www.youtube.com/watch?v=akOBuuxHj3s&feature=player_embedded#

"Eu tenho sido uma testemunha e estas imagens são

o meu testemunho. Os eventos que eu deveria ter gravado

não podem ser esquecidos e não devem ser repetidos. "

James Nachtwey-


via

http://www.omanancialdanoite.com/fotografia/war-photographer#more-2698

António Alçada Baptista

(…) se calhar, em muitos lugares do mundo, vivem e morrem, sem fazer barulho, pessoas muito superiores àquelas que a gente vê a andar, dum lado para o outro, na cena da vida, a talharem o nosso destino comum. (…) Se essas pessoas, um dia, emergirem do silêncio em que as deixámos, talvez, possamos encontrar-nos com a paz e a alegria cuja promessa pressentimos, sufocada e muda, dentro das entranhas do tempo.

Excerto de “Tia Suzana, Meu amor”, de António Alçada Baptista, Ed. Presença.



ouço:
"Dance Me To The End of Love" Leonard Cohen

http://www.youtube.com/watch?v=7pA5UhNaYw0&feature=player_embedded#