Desenho
Traça a recta e a curva,
a quebrada e a sinuosa.
Tudo é preciso.
De tudo viverás.
Cuida com exactidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
traçarás perspectivas, projectarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.
(Cecília Meireles)
quarta-feira, 14 de abril de 2010
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