28/5/1965
Vejo muitos turistas vestindo camisas de Nazaré. Dum grupo deles, à varanda dum grande hotel de luxo, digo: como estão pobres os que deveriam frequentar estes lugares. Estou com uma família inglesa. Vestem fatos de tweed de cores admiráveis. Pergunto: is it hand woven? Estou sentada a uma mesa com os turistas, falo do canto dos pássaros. Digo: sei imitar muito bem o melro. Então surge à janela um pássaro fulvo, ruivo, que identifico com um falcão mas que na verdade era um pequeno faisão. Chama, parece pedir alguma coisa. Parece cansado duma viagem. Dou-lhe pedacinhos de pão, mas ele não come. Surge então um gato preto que se atira ao pássaro e o mata. Vejo o gato agarrá-lo pelo pescoço. Vejo o sangue dele. O gato vai comer o pássaro. Num restaurante onde parece que faltou luz, uma senhora turista manda tirar de cima da mesa o maior número de coisas possível e diz: é preciso deixar espaço para o silêncio.
Ana Hatherly
Sonhos portugueses. Relatos oníricos de Ana Hatherly publicados no último número da revista Coyote.
sábado, 22 de maio de 2010
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