Faz hoje 368 anos que o Pe. António Vieira pronunciou o Sermão de Santo António, na igreja das Chagas, em Lisboa, a apelar à participação de todos no esforço de guerra para manter a independência do reino, restaurada ainda não havia 3 anos. Apelava concretamente a que todos participassem com os seus impostos, o que seria o tema dominante das Cortes que se reuniram no dia seguinte. É uma ideia que continua bem actual, num país onde todos tentam fugir aos impostos, sobretudo os que têm mais, e onde se instalou a prática terceiro-mundista do pagamento sem factura, sem perceber que assim não vamos a lado nenhum. Dou a palavra a Vieira.
Estes (*) são os elementos de que se compõe a república. Da maneira, pois, que aqueles três elementos naturais deixam de ser o que eram, para se converterem em uma espécie conservadora das cousas: Ex eo, quod fuit, in alteram speciem commutatur; assim estes três elementos políticos hão de deixar de ser o que são, para se reduzirem unidos a um estado que mais convenha à conservação do reino. O estado Eclesiástico deixe de ser o que é por imunidade, e anime-se a assistir com o que não deve. O estado da Nobreza deixe de ser o que é por privilégios, e alente-se a concorrer com o que não usa. O estado do Povo deixe de ser o que é por possibilidade, e esforce-se a contribuir com o que pode; e desta maneira deixando cada um de ser o que foi, alcançarão todos juntos a ser o que devem; sendo esta concorde união dos três elementos eficaz conservadora do quarto. Vos estis sal terrae.
(*) o Estado Nobreza, o Estado Eclesiástico, o Estado do Povo.
Pe. António Vieira
Sermão de Santo António (Lisboa, 14 de Setembro de 1642)
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