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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

ana luísa amaral

anjos caídos
neste palco de sol,
de repente:
os teus lábios:
anjos caídos mas abençoando

cada curva e tremura
dentro do nervo exacto
da memória

por esses lábios
eu faria tudo:

rasgava-me de sangue
e inocência,
partia com as mãos vitrais
e estrelas,
desintregava o sol

já não anjos caídos
os teus lábios,
mas deuses transportados
pelos meus



o tempo das estrelas
um compasso de espera
tão longo e musical
por estrelas destas
a tocar-me o rosto

e aprender a aceitá-las,
e eu ser um céu imenso
onde elas se pudessem passear,
encontrar uma casa,
um pequeno silêncio
de folhas,
e poeiras, e cometas

na desordem mais cósmica
das coisas,
organizar inteiro:
o coração

porque, a tocar-me o rosto,
o tempo das estrelas
será sempre,
mesmo que tombem astros,
ou outras dimensões se lancem
em vazio,
ou raízes de luz se precipitem
no nada mais atónito

terá valido tudo
a desordem do sol,
terá valido tudo
este lugar incandescente
e azul

porque, a tocar-me o rosto,
agora,
e em silêncio tão terreno:
paraíso de fogo:
estas estrelas

transportadas em luz
nas tuas mãos.



as pequenas gavetas do amor
se for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz

devagar, meu amor, se for preciso,
cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde

na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores

só não trarei o resto
da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a quiseres.


ana luísa amaral

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