anjos caídos
neste palco de sol,
de
repente:
os teus lábios:
anjos caídos mas abençoando
cada curva e
tremura
dentro do nervo exacto
da memória
por esses lábios
eu
faria tudo:
rasgava-me de sangue
e inocência,
partia com as mãos
vitrais
e estrelas,
desintregava o sol
já não anjos caídos
os
teus lábios,
mas deuses transportados
pelos meus
o
tempo das estrelas
um compasso de espera
tão longo e
musical
por estrelas destas
a tocar-me o rosto
e aprender a
aceitá-las,
e eu ser um céu imenso
onde elas se pudessem
passear,
encontrar uma casa,
um pequeno silêncio
de folhas,
e
poeiras, e cometas
na desordem mais cósmica
das coisas,
organizar
inteiro:
o coração
porque, a tocar-me o rosto,
o tempo das
estrelas
será sempre,
mesmo que tombem astros,
ou outras dimensões se
lancem
em vazio,
ou raízes de luz se precipitem
no nada mais
atónito
terá valido tudo
a desordem do sol,
terá valido
tudo
este lugar incandescente
e azul
porque, a tocar-me o
rosto,
agora,e em silêncio tão terreno:
paraíso de fogo:
estas
estrelas
transportadas em luz
nas tuas
mãos.
as pequenas gavetas do amor
se
for preciso, irei buscar um sol
para falar de nós:
ao ponto mais
longínquo
do verso mais remoto que te fiz
devagar, meu amor, se for
preciso,
cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais
constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta
tarde
na memória mais funda guardarei
em pequenas gavetas
palavras
e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e
sabores
só não trarei o restoda ternura em resto esta tarde,
que
nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a
quiseres.
ana luísa amaral
Chet Baker
Há 3 horas
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