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Mulher com História
Dona Gracia Nasi (1510-1568), uma Mulher com História
Nascida no seio de uma rica família de marranos em Portugal em 1510, Gracia era
conhecida por seu nome cristão, Betriz de Luna. O nome de sua irmã era Reina,
batizada Brianda. Seu irmão Samuel Nasi (que tinha o nome de Agostinho Miguel),
era médico da corte e catedrático de medicina da Universidade de Lisboa, morreu
em 1525 e Gracia assume a responsabilidade de criar os filhos de seu irmão, João
(José) e Agostinho (Samuel). Assim como os outros marranos os Nasi viviam como
cristãos devotos em público e praticavam secretamente o judaísmo.
Com 18
anos de idade, Gracia contraiu nupcias com Francisco Mundes, marrano e próspero
baqueiro. Ele e seu irmão Diego, que administrava os negócios em Antuérpia,
ajudavam marranos perseguidos pela inquisição a escapar utilizando-se de suas
empresas e império financeiro.
Quando a inquisição chegou a Portugal em 1536,
Francisco se preparou para unir-se a seu irmão em Antuérpia, porém ficou doente
e morreu antes de poder realizar seu plano.
Gracia Nasi Mendes, tinha então
26 anos quando juntamente com sua filha pequena, Reina a jovem, enterrou o seu
esposo como cristão e abandonou Lisboa.
Embarcaram além de Gracia e sua
filha, sua irmã Reina seus sobrinhos José e Samuel em um dos navios mercantis
dos Mendes rumo a Londres, levando a bordo todos os seus pertences.
De
Londres a família viajou para os Países Baixos atravessando as rotas ideais para
os marranos. Chegaram a salvo em Antuérpia, onde Gracia se uniu com seu cunhado
Diego como sócia plena nos negócios, enquanto que sua irmã Reina tornou-se sua
esposa. Reina e Diego tiveram uma filha a quem chamaram Gracia a Jovem, pois
Gracia e Francisco haviam dado a sua filha o nome Reina a Jovem, em honra a
tia.
Durante seis anos, Gracia participou da sociedade aristocrática e do
mundo de negócios de Antuérpia e com seu cunhado continuaram ajudando marranos a
fugir de Portugal. Diego confiva tanto em sua cunhada Gracia que em seu
testamento a nomeou única administradora de seus bens e tutora de sua
filha.
Quando Diego morreu em 1542, o controle de toda a fortuna dos Mendes
passou as mãos de Gracia, assim como a responsabilidade pelo bem-estar de sua
família. Para tal contava com a ajuda de seu sobrinho José, então com 22 anos,
um hábil homem de negócios e excelente diplomáta.
Em 1544, quando Reina, a
formosa e abastada filha de Gracia tinha 14 anos, foi pedida em casamento pelo
ancião Don Francisco de Aragão, nobre católico e membro da realeza. Gracia
estava decidida que sua filha se casaria com um judeu. Tão pressionada estava
pela família imperial que planejou transferir suas posses e abandonar a cidade.
Fingindo estar recuperando-se de uma doença, Gracia, sua irmã e suas duas filhas
viajaram ao balneário de Aquisgran, de lá seguiram a Lyon e finalmente a
Veneza.
José permaneceu em Antuérpia para supervisionar os bens da família,
que nessa época estavam em nome das jovens Gracia e Reina, sendo Gracia Nasi sua
administradora e tutora até que alacançassem a maior idade.Logo escaparam e
suas propriedades e bens foram embargadas. Passados dois anos de negociação e
consideráveis prestamos ao imperador, José conseguiu recuperar a fortuna da
família e transferir os negócios a outros lugres, principalmente Lyon. Então
abandonou Antuérpia e se reuniu com o resto da família em Veneza.
Em Veneza,
Gracia foi denunciada como judaizante por sua irmã Reina, quem esperava obter o
controle da riqueza da família. Gracia foi sumariamente detida e enviada a
prisão, e suas propriedades foram embargadas. Reina também foi denunciada por um
agente francês da empresa dos Mendes a quem ela havia subornado, e as jovens
Reina e Gracia, foram enviadas a um converto. Uma vez mais, José empregou seus
notáveis habilidades diplomáticas para conseguir que o sultão turco exija a
libertação de Gracia.
Reconciliada com sua irmã e com suas filhas novamente
sob sua custódia, a família se mudou para Ferrara. Nesta cidade em 1550, Gracia
se despojou de sua identidade cristã e confessou abertamente seu judaísmo. A
partir desse momento foi conhecida como Dona Gracia Nasi, em vez de Beatriz de
Luna, e intensificou sua ajuda aos emigrantes marranos.
Financiou a
publicação da primeira tradução da Bíblia hebraica para o espanhol, assim como
outras obras em hebraico, espanhol e português, e participou intensamente dos
assuntos da comunidade judaica.
No entanto, o clima de intolerância cristã na
Europa se itensificava; além disso, os judeus poderosos eram muito melhor
recebidos pelo sutão turco Suleiman, a quem Gracia Nasi lhe era muito grata. Em
1553 transladou-se com sua família e fortuna para Constantinopla, capital do
Império Otomano.. As comunidades judaica e marrana da cidade lhe fizeram uma
majestosa recepção, pois para esses havia se tornado uma lenda.
Estabeleceu-se em uma imponente mansão nos subúrbios, onde cebrava luxuosas
festas, desenvolvia uma ampla atividade beneficente e oferecia comidas grátis a
80 pobres diariamente. O comércio de lá, grãos, especiarias e textil no Império
turco prosperou tal como havia acontecido na Europa cristã e assim conseguiu
continuar suas boas obras como patrona de sábios, academias e sinagogas em
Cosntantinopla, Salônica e outros lugares.
Uma das primeiras promessas que
cumpriu em Turquia foi a que tinha feito a seu falecido marido: enterrá-lo na
Terra de israel. Como a Palestina se encontrava sob o domínio otomano, conseguiu
que os restos mortais de seu esposo fossem transportados secretamente de Lisboa
e enterrados de novo ao pé do Monte das Oliveiras.
Em 1554, a inquisição
alcançou o porto italiano de Ancona, um centro de comércio internacional.
Dezenas de marranos, muitos deles mercadores e alguns agentes ou amigos pessoais
da família Nais, foram detidos e torturados. Com a intervenção do sultão, Dona
Gracia conseguiu que alguns deles fossem libertados por serem súditos turcos,
mas a maioria permaneceu encarcerada até confessarem seu erro. Vinte e quatro
prisioneiros que se recusaram a renegar sua fé morreram na fogueira.
Como
represália, Dona Gracia intercedeu por um boicote geral do porto de Ancona por
parte da comunidade financeira judaica do Império Otomano, sob pena de
excomunhão.
Mesmo que muitos rabinos e líderes de comunidade apoiaram sua
proposta, esta foi rechaçada devido a oposição de Josué Soncino, rabino da
Grande Sinagoga de Constantinopla.
Dona Gracia Nasi dirigiu então suas
energias a Terra Santa. Havendo passado sua vida transladando de um refúgio
inseguro a outro, resolveu iniciar a reconstrução do verdadeiro lugar do povo
judeu.
Em 1560, com a ajuda de seu sobrinho José, propos as autoridades de
Constantinopla que lhe fosse vendida a conseção de Tiberíades e sete aldéias
adjacentes em troca da receita de impostos além de uma cota anual de mil
ducanos.
Don José Nasi foi nomeado governador de Tiberíades; seu auxiliar
José ibn Adret foi enviado a supervisar a reconstrução da cidade e seus muros.
Dona Gracia estabeleceu uma academia que atraiu eruditos e construiu um palacio
para si mesma cerca das fontes térmicas de Tiberíades.
José importou ovelhas
e amoureiras a fim de produzir lã e criar XXXXX(gusanos) de sêda e assim
estabelecer a base para uma rentável indústria textil na cidade.
Intensamente envolvida em seus numerosos intereses e ocupações, Dona Gracia
postergou sua mudança de Cosntantinopla a Tiberíades.
Quando faleceu em 1569
com 59 anos de idade, sua morte causou uma onda de pesar nas comunidades
judaicas da Europa e do Império Otomano.
Sua memória está perpetuada em
publicações eruditas e foi louvada nas sinagogas, sendo comparada com as grandes
heroínas bíblicas. Dona Gracia Nasi "a coroa da glória das mulheres virtuosas" e
"o coração de seu povo", é lembrada como a mulher judia mais
destacada de sua
geração.
Extraído: “Entre Mujeres –Ajdut”
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