A minha Lista de blogues

domingo, 31 de janeiro de 2010

tudo o que me podes dizer

Raul brandão / tudo o que me podes dizer


Olhava este momento que ia desaparecer, com saudade – porque nunca mais se repetiria no mundo. Nunca mais outro segundo igual nem na luz, nem na vibração, nem na ternura…
O momento em que me sorriste, baloiçado entre o nada e o nada, nunca mais se voltaria a repetir, idêntico e completo, em todos os séculos a vir! Estava ali a morte… está aqui a vida. Agora pergunto a mim mesmo se te deixo morrer; e a pergunta obsidia-me e exige resposta imediata. Sei tudo, tudo o que me podes dizer – já eu o disse a mim próprio. Até hoje falava a alguma coisa que me ouvia, hoje só interrogo a mudez, só a mim próprio me interrogo.





raul brandão
húmus
(novas máximas)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Desejar

"Procurei em todo o universo o repouso e não o encontrei em mais parte nenhuma senão num canto com um livro."

Pascal Quignard, in "As sombras errantes"



Joanna newsom – strout and the bean

http://www.youtube.com/watch?v=IYl0uLrXP7U&feature=player_embedded#

Madame Tutli-Putli

Cris Lavis e Maciek Szczerbowski,2007,17 min 15s


Esta stop-motion animação leva os espectadores a uma viagem emocionante existencial, o mundo táctil de Madame Tutli-Putli. Como ela viaja sozinha no comboio noturno, levando consigo todos os seus bens terrenos e os fantasmas de seu passado, ela enfrenta tanto a bondade como a ameaça de estranhos. Envolve-se numa desesperada aventura metafísica, à deriva entre mundos reais e imaginários, Madame Tutli-Putli confronta seus demónios.

ver:

http://www.nfb.ca/film/madame_tutli_putli_en

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

As coisas inatingíveis

Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mario Quintana, Espelho Mágico

o poema

Não quero, Cloe, teu amor, que oprime
Porque me exige o amor. Quero ser livre.

Parte, Cloe, e a nada me obrigues. Parte, que o teu amor me consome numa exaustão que oprime e aprisiona. Parte, Cloe, porque a nada do que te tenho posso chamar amor. Não o sinto. Não te quero.
Eu fingi, Cloe, um amor que não é meu, não me serve, nem pertence. Fui-te um reflexo, um espelho imperfeito do que em mim querias ver, nunca amor - esse a que me exige aquele que te inunda. Por isso, te peço, Cloe, que me deixes sem mais me olhares, sem mais me amares. Parte, sem sofrimento, mas parte, porque eu quero ser livre e não o sei ser contigo.
Eu menti, Cloe. Inventei este amor, o único que conheces, mas que não é meu. Fui-te fiel, mas não sei ser-te mais do que isso, só um servo, um escravo de um amor que desejas e não me reconhece. Eu menti, Cloe. Inventei uma paixão que, só por cegueira, não sabias apenas tua. Fui-te amor enclausurado - frio, também -, condenado a um que me exiges, só porque me amas. Mas eu não te amo - nem o sei, que és complexa, amor personificado.
Não chores, Cloe, mais. O que em mim viste não te merece e eu preciso de ser livre. Vou dizer-te, erraste, meu amor. Quiseste demais e não soubeste ver o quanto me oprime esse teu amor. Quiseste demais, Cloe. E eu não soube ser mais do que um fingidor, numa distância e indiferença que cada vez mais me pertencem, ao contrário desse teu amor que tanto me exige.
Parte, Cloe, e a nada mais me obrigues. Ouve - adivinha - estas palavras que não te consigo dirigir - gritar. Só sei ser distante e indiferente - frio -, porque mais cómodo, não me exige coragem - sofrimento. Parte, Cloe, que eu não sei deixar de te fingir e mentir. E, porque a 'sperança é um dever do sentimento, aprende-a, meu amor. Eu já nada (te) sou, apenas uma mentira a que o amor te exigiu.

Vejo-te, agora, partir. Antes, abraço-te, porque me adivinhaste. Mas perdoa-me, Cloe, porque não te soube amar.
[o poema, Ricardo Reis]

ouço estas músicas:

The xx : : VCR
http://www.youtube.com/watch?v=Q5Vg6F48mA8&feature=player_embedded#

Pearl Jam – Just Breathe

http://www.youtube.com/watch?v=XTb9GNIxpMk&feature=player_embedded#

INTERESSANTE

O meu amigo é interessante, mas não está no seu apartamento.
A conversa deles parece interessante, mas estão a falar numa língua que não compreendo.
Ambos têm a reputação de serem pessoas interessantes e, por isso, estou certa de que a conversa deles é interessante, mas estão a falar numa língua de que só compreendo um pouco, por isso só apanho fragmentos como "estou a ver" e "no Domingo" e "infelizmente".

Este homem tem uma boa compreensão do seu assunto e diz muitas coisas que são provavelmente interessantes em si mesmas, mas eu não estou interessada porque o assunto não me interessa.

Eis uma mulher que conheço a vir na minha direcção. Está muito entusiasmada, mas não é uma mulher interessante. Aquilo que a entusiasma não será interessante, simplesmente não será interessante.

Numa festa, um homem nervoso, a falar muito depressa, diz muitas coisas espertas sobre assuntos que não me interessam particularmente, como a restauração de casas históricas e, em particular, a idade do papel de parede. Ainda assim, por ser tão esperto e por me dar tanta informação por minuto, não me canso de o ouvir.

Eis um engenheiro de trânsito, inglês e muito belo. O facto de ser tão belo, e tão animado, e de ter uma pronúncia inglesa tão boa, fá-lo parecer, de cada vez que vai para começar a falar, que está prestes a dizer algo interessante, mas ele nunca é interessante, e mesmo assim está a dizer algo interessante, de novo sobre padrões de trânsito.
Por Lydia Davis
Do livro: Samuel Johnson is indignant
Traduzido por J.L.Peixoto

CITAÇÃO II

Pensamos demasiadamente
Sentimos muito pouco
Necessitamos mais de humildade
Que de máquinas.
Mais de bondade e ternura
Que de inteligência.
Sem isso,
A vida se tornará violenta e
Tudo se perderá.

(Charles Chaplin)

CITAÇÃO I

"Todos chegamos um dia como a água e nos vamos como o vento."
Graham Greene

A Voz do Silêncio

Que a tua alma dê ouvidos a todo o grito de dor
como a flor de lótus abre o seu seio
para beber o sol matutino.


Que o sol feroz não seque uma única lágrima de
dor antes que a tenhas limpado dos olhos
de quem sofre.


Que cada lágrima humana escaldante caia no teu
coração e aí fique; nem nunca a tires
enquanto durar a dor que a produziu.


Helena Petrovna Blavatsky

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O solitário

"O solitário leva uma sociedade inteira dentro de si: o solitário é multidão. E daqui deriva a sua sociedade. Ninguém tem uma personalidade tão acusada como aquele que junta em si mais generalidade, aquele que leva no seu interior mais dos outros. O génio, foi dito e convém repeti-lo frequentemente, é uma multidão. É a multidão individualizada, e é um povo feito pessoa. Aquele que tem mais de próprio é, no fundo, aquele que tem mais de todos, é aquele em quem melhor se une e concentra o que é dos outros. (...) O que de melhor ocorre aos homens é o que lhes ocorre quando estão sozinhos, aquilo que não se atrevem a confessar, não já ao próximo mas nem sequer, muitas vezes, a si mesmos, aquilo de que fogem, aquilo que encerram em si quando estão em puro pensamento e antes de que possa florescer em palavras. E o solitário costuma atrever-se a expressá-lo, a deixar que isso floresça, e assim acaba por dizer o que todos pensam quando estão sozinhos, sem que ninguém se atreva a publicá-lo. O solitário pensa tudo em voz alta, e surpreende os outros dizendo-lhes o que eles pensam em voz baixa, enquanto querem enganar-se uns aos outros, pretendendo acreditar que pensam outra coisa, e sem conseguir que alguém acredite."

Miguel de Unamuno, in "Solidão"

REFLEXÂO

"Fazer qualquer coisa ao contrário do que todos fazem é quase tão mau como fazer qualquer coisa porque todos a fazem. Mostra uma igual preocupação com os outros, uma igual consulta da opinião deles - característica certa da inferioridade absoluta. Abomino por isso a gente como Oscar Wilde e outros que se preocupam com seres imorais ou infames, e com o impingir paradoxos e opiniões delirantes. Nenhum homem superior desce até dar à opinião alheia tal importância que se preocupe em contradizê-la. Para o homem superior não há outros. Ele é o outro de si próprio. Se quer imitar alguém, é a si próprio que procura imitar. Se quer contradizer alguém, é a si mesmo que busca contradizer. Procura ferir-se, a si próprio, no que de mais íntimo tem... faz partidas às suas próprias opiniões, tem longas conversas cheias de desprezo e com as sensações que sente. Todo o homem que há sou Eu. Toda a sociedade está dentro de mim. Eu sou os meus melhores amigos e os meus verdadeiros inimigos. O resto - o que está lá fora - desde as planícies e os montes até às gentes - tudo isso não é senão paisagem..."

Fernando Pessoa, in "Reflexões Pessoais"

VIVER

"É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar.
É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se, nada fazendo até ao final.
Eu prefiro caminhar na chuva, que em dias tristes esconder-me em casa.
Prefiro ser feliz, embora louco, que viver conformado."

Martin Luther King

domingo, 24 de janeiro de 2010

O desejo de ser outro

"O desejo de se ser diferente daquilo que se é, é a maior tragédia com que o destino pode castigar o homem. O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração humano. Porque não é possível suportar a vida de outra maneira, apenas sabendo que nos conformamos com aquilo que significamos para nós próprios e para o mundo. Temos de nos conformar com aquilo que somos e de ter consciência, quando nos conformamos, de que em troca dessa sabedoria, não recebemos elogios da vida, não nos põem no peito nenhuma condecoração por sabermos e aceitarmos que somos vaidosos ou egoístas, carecas e barrigudos - não, temos de saber que por nada disso recebemos recompensas, nem louvores. Temos de suportar, o segredo é isso. Temos de suportar o nosso carácter, o nosso temperamento, já que os seus defeitos, egoísmos e avidez, não os mudam nem a experiência, nem a compreensão. Temos de suportar que os nossos desejos não tenham plena repercussão no mundo. Temos de suportar que as pessoas que amamos, não nos amem, ou que não nos amem como gostaríamos. Temos de suportar a traição e a infidelidade, e o que é mais difícil entre todas as tarefas humanas, temos de suportar a superioridade moral ou intelectual de uma outra pessoa."

Sándor Márai, in "As Velas Ardem Até ao Fim"

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

LIVROS USADOS

1.
Livros usados, do meu tempo
de coca-bichinhos em alfarrabistas
e livrarias de ocasião,
folheio-vos hoje e decifro os sublinhados
que fui deixando em cada leitura.
Quando o caminho já deixava antever a derrota
construí uma cidadela –
confinava aí parte dos meus dias –
com as vossas páginas,
falcoaria
que não admitia captura, manutenção e adestramento:
mal lhes largava a sombra iam em demanda
de uma luz perdida.
Se vos lembrais, livros usados, reuníamo-nos para
fazer caminhadas solitárias,
longe das matilhas
que na outra margem cultivavam
uma historiografia sem feitos
grandiosos,
uma filosofia em alcova emprestada.
Livros usados, se vosso saber é vendido a desbarato,
se vosso rasto se perde na obscuridade
dos que não atendem devidamente
aos sinais,
ainda sois para mim
torres de vigia na escuridão,
agulhas magnéticas
onde se concilia a ascese
e a caligrafia indefinida
do amor.
2.
Pequenos teatros itinerantes, óperas de bairro,
fragmentos fílmicos de um tempo recuado são,
em períodos de seca e pilhagem servindo de abrigos
e ensinando-nos a escutar a orquestra interior,
trágica e soberba.
Na observação do mundo
tomam por base o conhecimento que retiram de nós:
reflexão, sonhos, viagens.
Tufões, tesouros de seiscentistas naus,
outras vozes
vindas de pequenas embarcações
por caminho errado irão
aqueles que em estufas pretendam
embalsamá-los, a esses que são como crianças
alvoraçadas em jardins
e em pátios circundados por prédios.
Exigem atenção e respeito absoluto, certamente;
mas mais do que isso
detença e amor
e aqui e ali infidelidade:
trocarmos o seu odor a cãs de família
pelo prazer de um corpo batido pelas ondas
ou uma conversa com um amigo
que há mais de um ano não ri.
Alguns preferem o recanto das bibliotecas
para proferirem a primeira palavra;
mais estroinas, parecem outros dar-se melhor
em praias
onde adquirem um ritmo deambulatório, secreto.
Especial profundidade alcançam
os que nos aventuram
por florestas impraticáveis, antes de se expandirem para dentro da memória,
esse zoo doméstico.
Pela manhã, ao fazer a ronda habitual
pelas livrarias encontro os recém-saídos
colocados atrás das montras.
Com eles a noite irei reacender
uma esquecida prece.


Jorge Gomes Miranda

In:A Hora Perdida, pp. 16-19 (Campo das Letras 2003)

MOLA DE ROUPA

Conservei-me afastada do estendal
durante algum tempo.
Sofro de vertigens, por isso
intimidava-me olhar para baixo,
o pátio vazio, restos de flores secas.
Um prédio com dez andares
e ele tinha logo que viver no último,
tendo como horizonte o mar
de terraços e antenas parabólicas.

Quando, chegado com a roupa
da máquina de lavar,
pega em mim,
de suas mãos eu deslizo para o chão.
Apressado, em vez de me apanhar
imediatamente, escolhe outra;
no final, atira-me para o cesto
de verga.

Não é que seja particularmente ardilosa,
mas verdade seja dita, preferia ser
mola de rés-do-chão,
dessas que faça sol ou chuva
sempre prendem a roupa numa corda
estendida no pátio.
O destino quis-me feita de plástico,
com um coração inclinado à melancolia.
Tenho, no entanto, como divisa
antes quebrar que torcer.

Sonho com o dia em que nas mãos da criança
serei um comboio.



Jorge Gomes Miranda
“O Acidente” (Assírio & Alvim, 2007)

um âmago

no vulcão dos sentidos
a vida não é bem assim
não há príncipio ou fim
só começa quando pegas
só acaba quando largas
não deixas nada ao mundo
nem coisa alguma levas
transformam-te energias
recebes e aprendes mais
do que pensas e ensinas

Joaquim Castro Caldas
em Mágoa das Pedras, Porto: Deriva, 1ª edição, 2008, p. 38.

POEMA/CECÍLIA MEIRELES

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

A arte de perder

UMA ARTE

"A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contém em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.
(...) Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios e mais um continente.
Tenho saudades deles. Mas não é nada sério.
Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça muito sério."

ELIZABETH BISHOP

A ALMA E OS SENTIDOS

"Ah! Os mistérios da alma e dos sentidos!
Os desígnios desconhecidos que nos embarcam no rio da existência, águas tormentosas e, de repente, pacíficas.
Enigmas insondáveis esses, do sangue que nos corre nas veias, da pele que nos cobre o corpo, todos os nervos, tendões e os maravilhosos órgãos que nos permitem existir e tudo isto se reduz a nada quando a alma, essa que não existe, não é palpável, mas que é o toque do divino, o que de nós se liga ao incomensurável, quando a alma toma conta de nós, transformando-nos em barro, mais leves e maleáveis que o pó à beira da estrada.
Os mistérios dos sentidos são mistérios, porque de outra forma há muito que a raça humana, conhecesse ela o segredo da alquimia da junção da alma e sentidos, se teria mutilado, devorado, evaporado da face da Terra, tal é a força desta união."

Luísa Castel-Branco
in: Não Digas a Ninguém - Oficina do Livro

Regresso a Ítaca

Conheces a casa pelos cheiros e os ruídos
As sombras na parede a certas horas
Uma jarra de rosas sobre a mesa
E a primavera no quintal com o seu perfume
De terra e musgo e buxo e flores de limoeiro

Conheces a casa até por sua música
Que é um branco silêncio povoado
Por móveis e tapetes ecos vozes

Este devia ser o teu lugar sagrado
Aquela Ítaca secreta em que pensavas
Quando buscavas um caminho ou um destino

Mas eis que chegas e algo está mudado
É certo que na vila os velhos te reconheceram
Como a Ulisses o fiel porqueiro

Porém na casa algo está diferente
O teu próprio retrato te parece um outro
E mais do que nunca sentes-te estrangeiro

Por isso o teu exílio é sem remédio


Manuel Alegre

Cidades

A maré da vida, sempre ligeira no seu curso,
Pode correr nas cidades com mais força,
Mas em parte alguma com corrente tão serena
Ou tão clara, como na cena rural.


WILLIAM COWPER; 1782

Quando o amor morrer

Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços.
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.




Ruy Cinatti

Raul brandão / tudo o que me podes dizer

Olhava este momento que ia desaparecer, com saudade – porque nunca mais se repetiria no mundo. Nunca mais outro segundo igual nem na luz, nem na vibração, nem na ternura…
O momento em que me sorriste, baloiçado entre o nada e o nada, nunca mais se voltaria a repetir, idêntico e completo, em todos os séculos a vir! Estava ali a morte… está aqui a vida. Agora pergunto a mim mesmo se te deixo morrer; e a pergunta obsidia-me e exige resposta imediata. Sei tudo, tudo o que me podes dizer – já eu o disse a mim próprio. Até hoje falava a alguma coisa que me ouvia, hoje só interrogo a mudez, só a mim próprio me interrogo.





raul brandão
húmus
(novas máximas)
frenesi
2000

novo ano 2010

“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez
com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente…

…para você,
desejo o sonho realizado.
O amor esperado.
A esperança renovada.
Para você,
desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.

Para você neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família esteja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas
mas nada seria suficiente…
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada
minuto, rumo a sua felicidade!!!”

Carlos Drummond de Andrade