Bom é o esquecimento.
Senão como é que
O filho deixaria a mãe que o amamentou?
Que lhe deu a força dos membros e
O retém para os experimentar.
Ou como havia o discípulo de abandonar o mestre
Que lhe deu o saber?
Quando o saber está dado
O discípulo tem de se pôr a caminho.
Na velha casa
Entram os novos moradores.
Se os que a construíram ainda lá estivessem
A casa seria pequena de mais.
O fogo aquece. O oleiro que o fez
Já ninguém o conhece. O lavrador
Não reconhece a broa de pão.
Como se levantaria, sem o esquecimento
Da noite que apaga os rastos, o homem de manhã?
Como é que o que foi espancado seis vezes
Se ergueria do chão à sétima
Pra lavrar o pedregal, pra voar
Ao céu perigoso?
A fraqueza da memória dá
Fortaleza aos homens.
Bertolt Brecht, in Poemas e Canções, trad. Paulo Quintela, Livraria Almedina, 1975, p. 209. Nota biográfica composta a partir da cronologia organizada por Ana Barradas para o volume Brecht – Selecção de Poemas, Textos e Teatro, Dinossauro, 3.ª edição, Abril de 1999.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário