Provérbio I
O orgulho do pavão é a glória de Deus.
A luxúria da cabra é a liberalidade de Deus.
A ira do leão é a sabedoria de Deus.
A nudez da mulher é a obra de Deus.
Londres
Eu vagueio através de cada rua traçada,
Perto de onde o traçado Tamisa corre,
E observo em cada rosto que encontro
Marcas de fraqueza e preocupação.
Em cada grito de cada homem,
Em cada grito de criança, grito de receio,
Em cada voz, em cada imprecação,
Algemas do espírito eu ouço.
Como o grito do varredor de chaminé
Cada igreja escurecida intimida,
E o suspiro do infeliz soldado
Corre em sangue debaixo das paredes do Palácio.
Mas muitas vezes através das ruas à meia noite eu ouço
Como a maldição da jovem prostituta
Faz explodir as lágrimas da criança recém-nascida
E destrói com pragas o carro funerário do casamento.
Provérbio II
Prisões são construídas com pedras da Lei.
Bordéis com tijolos da Religião.
O Varredor de Chaminés
Uma pequena coisa preta entre a neve
gritando, chora, chora em notas de preocupação!
Onde estão o teu pai e atua mãe?
Eles foram ambos á igreja para a oração.
Porque eu fui feliz sobre a lareira
E sorri entre a neve de inverno,
Eles vestiram-me em traje de morte
E ensinaram-me a cantar notas de preocupação.
E porque eu sou feliz e danço e canto
Eles pensam que não me causaram injúria,
E foram louvar Deus e o seu Padre e Rei
Que fazem um céu da nossa miséria.
Provérbio III
A ave - um ninho, a aranha - uma teia, o homem - a amizade.
Uma árvore de venenoEu zanguei-me com o meu amigo:
Eu soltei a minha cólera, a minha cólera acabou.
Eu zanguei-me com o meu inimigo:
Eu não a soltei, a minha cólera aumentou.
E eu banhei-a em receios,
Noite e dia com as minhas lágrimas;
E iluminei-a com sorrisos,
E com suaves astúcias enganosas.
E ela cresceu dia e noite,
Até que uma maçã brilhante suportou,
E o meu inimigo o seu brilho contemplou,
Mas ele sabia que ela era minha.
E saltando dentro do meu jardim roubou,
Quando pela noite o tronco escondido ficou,
E de manhã eu vejo, divertido,
O meu inimigo, debaixo da árvore, estendido.
Provérbio IV
Pensa de manhã.
Age ao meio-dia.
Come à tardinha.
Dorme de noite.
O Tigre
Tigre! Tigre! ardendo em chamas
Nas florestas da noite:
Que imortal mão ou olho
Puderam estruturar a tua imponente simetria?
Em que distantes profundezas ou céus
Arde o fogo dos teus olhos?
Em que asas ousa ele elevar-se?
Que mão ousa agarrar o fogo?
E que ombro e que arte,
Podem torcer os nervos do teu coração?
E quando o teu coração começou a bater,
Que terríveis mãos? e que terríveis pés?
Que martelo? Que cadeia?
Em que fornalha esteve o teu cérebro?
Que bigorna? Que terríveis garras
Ousam os seus mortais terrores agarrar?
Quando as estrelas lançarem as suas lanças,
E banharem o céu com as suas lágrimas,
Sorrirá ele por ver a sua obra?
Ele que fez o cordeiro, fez-te a ti?
Tigre! Tigre! ardendo em chamas
Nas florestas da noite:
Que imortal mão ou olho
Ousou estruturar a tua imponente simetria?
Provérbio V
Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos de instrução.
Se um louco persistisse na sua loucura, ele tornar-se-ia sábio.
Se os outros não fossem loucos, Nós seríamos.
A Mosca
Pequena mosca,
ao teu jogo de verão
A minha irreflectida mão
Deu um empurrão.
Não sou eu
Uma mosca como tu?
Ou não és tu
Um homem como eu?
Porque eu danço
E bebo e canto:
Até que uma mão cega
Toque a minha asa.
Se pensamento é vida
E força e respiração
E o desejo
De pensamento é a morte;
Então eu sou
Uma feliz mosca
Quer eu viva
Quer eu morra.
Provérbio VI
As horas da loucura são medidas pelo relógio;
mas as da sabedoria nenhum relógio pode medir.
A abelha diligente não tem tempo para a tristeza.
A eternidade está no amor com os produtos do tempo.
Ah!, Girassol!
Ah, Girassol! cansado do tempo,
Quem conta os passos do Sol,
Procurando essa doce região dourada,
Onde a jornada do viajante é realizada:
Onde o Jovem consumido de desejo,
E a pálida Virgem amortalhada de neve,
Se levantam das suas sepulturas e aspiram
Onde o meu Girassol deseja ir.
Provérbio VII
Para ver um Mundo num Grão de Areia,
E um Céu numa Flor Silvestre,
Segura a Infinidade na palma da tua mão,
E a Eternidade numa hora.
Em cada Noite e cada Manhã
Em cada Noite e cada Manhã
Alguns nascem para a Miséria.
Em cada Manhã e cada Noite
Alguns nascem para o doce prazer,
Alguns nascem para o doce prazer,
Alguns nascem para a Noite sem Fim.
Nós somos levados a acreditar numa mentira
Quando não vemos com os Olhos,
O que Nasceu numa Noite, para morrer numa Noite,
Quando a Alma Dormia em Feixes de Luz.
Deus aparece e Deus é a Luz
Para aquelas pobres almas que habitam na Noite,
Mas revela-se uma Forma Humana
àqueles que habitam nos Reinos do Dia.
Tradução - RDP - Maria de Nazaré Fonseca
http://www.rtp.pt/antena2/?t=Benjamin--Britten.rtp&article=248&visual=16&layout=27&tm=15&autor=257