Passado, Presente e Futuro
"Começou a caminhada e logo um dilema.
Diante dele três caminhos, e em cada um deles, estava uma pessoa, das quais a primeira se identificou:
- Eu sou o velhote do Passado. Sou velho, muito velho. Vivo de recordações e factos passados.
- Consulto diariamente o meu álbum de fotografias. Revejo todos os episódios passados e fico sobretudo triste porque estou sempre a encontrar a mágoa, o ressentimento e o sentimento de culpa. Estão sempre presentes. Sempre a magoar-me e a acusar-me.
-Também tenho episódios bons e momentos felizes, mas esses diluem-se nos outros. O que está sempre presente, para quem caminha no meu caminho, são sobretudo os momentos menos bons: os fantasmas do Passado. Que aparecem e desaparecem, deixando sempre a sua marca.
- É um caminho com pouca luz. Há sobretudo escuridão. Há pessoas que vivem só no meu caminho, mas também tenho muitos atalhos com o caminho do Presente. A maioria dos meus caminhantes são pessoas que não se sentem bem no caminho do Presente e estão quase sempre a caminhar no meu caminho. São as pessoas que gostam de visitar os meus Fantasmas.
O Poeta ficou estupefacto e exclamou:
- Que caminho tão escuro! Certamente que não será este o caminho da Felicidade! O caminho da Felicidade será certamente um caminho iluminado. Um caminho onde a luz estará sempre presente.
E partiu, ao encontro da segunda pessoa: um jovem e alegre personagem.
- Eu sou o caminho do Presente – identificou-se!
- O meu caminho é o ponto de partida para o caminho da Felicidade. È o aqui e agora. O início. Não tenho atalhos para o caminho do Passado, porque sei que tudo o que aconteceu no passado é passado.
- Acontece que o passado já passou e, conseqüentemente, deixou de fazer parte do momento presente, a própria realidade. Portanto, não faz parte do meu caminho. Caminhamos mesmo em direcções diferentes. E acontece que não tenho atalhos com o caminho do Passado, porque o passo que dei ontem já é passado, no momento de hoje. E, além disso, não gosto de criar e fazer viver os fantasmas do passado. Nem gosto de fantasmas!
- E nunca olhas para trás? - perguntou o Poeta .
- Esse é um dos problemas. Tenho que estar sempre a avisar os meus caminhantes. Quando olham para trás e observam esse momento, devem entender isso somente como lições: lição nº 1, lição nº 2, lição nº 3 e por aí adiante. São apenas tabuletas de aviso aos caminhantes, quando estes olham para trás. É fundamental também ser um bom estudante.
- E nunca ficas arrependido de ter caminhado daquela maneira? - perguntou novamente o Poeta.
- Não. Entendo apenas os meus passos de ontem como mais um elemento de aprendizagem e aperfeiçoamento, para o passos que estou a dar aqui e agora, no momento presente.
Eu também concordo contigo, caminho do Presente – disse o Poeta. Não quero atalhos para o caminho do Passado, porque não quero ver os fantasmas do passado. Quero elimina-los da minha mente. Estão sempre a perturbar a serenidade das pessoas e a impedi-las de caminharem tranqüilamente no Caminho da Felicidade. Eles não devem existir. Eles não existem!
O Poeta caminhou então em direcção ao caminho do Futuro, que se identificou logo:
- Eu sou o caminho do Futuro! De facto, não existo: sou ilusão. O caminho do Futuro, na realidade, não existe. Estou envolto num nevoeiro muito denso. Pensam que existo, mas não existo. Estou apenas na imaginação das pessoas.
- E olha que há pessoas verdadeiramente obcecadas por mim. Já nem vivem no momento presente. Preferem só caminhar no meu caminho, ignorando completamente o caminho do Presente. Estão sempre nos atalhos!
- Por outro lado, tenho dois ajudantes, que estão sempre a tentar cativar as pessoas para caminharem no meu caminho: são o medo e a insegurança. São óptimos a angariarem caminhantes. E são terríveis, porque ao fazerem isso, levam a que os caminhantes deixem de caminhar. A ilusão de pensarem que estão a caminhar no meu caminho, e que, de facto, não estão, impede-os de caminharem no momento presente, perdendo assim inúmeras oportunidades que a vida lhes reserva.
- É, concordo contigo, caminho do Futuro – disse o Poeta. E a vida oferece-nos tão poucos presentes especiais, as tais oportunidades. E a maioria das vezes, essas oportunidades perdem-se! E os principais culpados são esses seus dois ajudantes: o medo e a insegurança! Qual deles o pior?
- Mas é bom olhar para o futuro, não? – perguntou o Poeta.
- É bom olhar, como meta, como objectivo e até como Sonho. Mas os caminhantes não devem é deixar de caminhar no momento presente, devido á tal obsessão do futuro, por medo ou insegurança, deste modo desperdiçando as escassas oportunidades que a vida se lhes oferece. O futuro é o momento presente do amanhã. Porque não vivê-lo só amanhã?
- E depois há outro aspecto, caminho do Futuro, que é a ansiedade – afirmou o Poeta. A ansiedade, que deve ser das companhias mais indesejáveis, vai sempre aumentando na mochila dos caminhantes à medida que caminhamos demasiado no Futuro, porque ele próprio é uma indefinição. Não existe. E tudo o que não existe arrasta sempre consigo uma insegurança e medo. E, aos poucos, a mochila da ansiedade vai pesando cada vez mais, no coração dos caminhantes.
- Portanto, o segredo é olhar somente, e não caminhar no Futuro, não é?
- É, Poeta, vejo que estás no bom caminho!
O Poeta, sentiu-se contente de ouvir aquilo. E partiu para o local onde estava o momento presente, para iniciar a grande caminhada, em direcção ao cume da Felicidade, o tal grande objectivo da vida.
- Os meus passos vão ser o aqui e agora, direito, esquerdo, no momento presente. Sem, todavia, deixar de olhar para o passado, como lição, como factor de aprendizagem, e olhar para o futuro, como luz, como orientação apenas. Quanto aos fantasmas do passado, como as mágoas, ressentimentos e sentimento de culpa, e à ansiedade do medo e insegurança do futuro vou deixa-los aqui, à entrada do caminho. Aqui mesmo! Aqui e agora!
- Uf, sinto-me muito mais leve e tranqüilo para viver o momento presente. Que bom! Direito, esquerdo, aqui e agora! Direito, esquerdo, aqui e agora!
E partiu........."
António Ramalho
via
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terça-feira, 30 de março de 2010
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